Mix Amazônia: um produto da Embrapa/AC que salvou a pecuária local

O consórcio de dois capins com resistência a solos encharcados ou regiões alagadiças trouxe respostas práticas às pastagens da região. Nos anos 90, foi o trabalho da equipe de Sistemas de Pecuária Sustentável da Embrapa Acre que reativou os pastos, atingidos por pragas nas regiões mais produtivas

Itaan Arruda

A Embrapa/AC reforça o impacto do Mix Amazônia na resiliência da pecuária regional às pragas que prejudicam a qualidade das pastagens. No material de divulgação da empresa, é utilizada a expressão “Mistura de capins que revolucionou as pastagens no Acre”. É uma síntese verdadeira.

Nos anos 90, as regiões mais produtivas da pecuária do Acre foram atingidas por uma série de pragas no capim braquiarão. Foi um problema ocorrido em todo país, mas na pecuária do Acre (que estava se consolidando à época), o efeito econômico seria devastador se não houvesse uma intervenção eficaz. Os produtores estavam quase desesperados, inclusive porque não havia diversidade de capins, uma cultura que mudou radicalmente após esta crise.

Foi o trabalho da equipe de Sistemas de Pecuária Sustentável da Embrapa/AC, coordenada pelo professor Judson Valentim, que salvou as pastagens da região. Os pesquisadores utilizaram um consórcio de cultivares. É um trabalho em que um capim complementa a ação do outro.

“O Mix Amazônia, mistura de sementes dos capins-xaraés (Brachiaria brizantha cultivar  Xaraés) e humidícola (B. humidicola cultivar Comum), tem sido a principal opção utilizada  pelos pecuaristas para formação de pastagens no Acre nos últimos 20 anos. Essa mistura foi recomendada pela Embrapa Acre a partir de 2003, após um estudo de campo de 3 anos que confirmou a boa tolerância do capim-xaraés ao encharcamento do solo. A orientação foi misturar sementes do capim-xaraés com, pelo menos, 20% de sementes de capim-humidícola, para assegurar a persistência do pasto em caso de alagamento do solo”.

Isso salvou as pastagens do Acre. “Os bons resultados logo se tornaram evidentes  e a mistura ganhou popularidade entre os pecuaristas. Atualmente, os dois capins são os mais plantados no Acre, superando a taxa de adoção observada na Amazônia”, lembra a Embrapa em informativo oficial. 

Então, a proporção de 80% de capins-xaraés com 20% de capim-humidícula foi a mais eficaz que os pesquisadores tabularam para dar a resposta que os produtores precisavam. Foram três anos de pesquisas. Nos últimos 20 anos, esse consórcio de sementes tem mostrado eficácia.

A crise das pastagens dos anos 90 mudou a cultura do produtor. Antes desatentos às pastagens como uma cultura de fundamento no processo de produção da carne, os produtores passaram não apenas a adotar o Mix Amazônia, mas também a diversificar os capins. Estudos recentes da própria Embrapa mostram que são poucos os produtores que têm pastagens com apenas uma cultivar. A maior parte tem entre 3 e 5. Há casos em que produtores plantam mais de seis. Mas estes são raros.

“Ele pode adquirir as sementes das 2 forrageiras em separado e fazer a mistura na sua propriedade e depois semear ou pode solicitar à empresa que comercializa as sementes para já fazer a mistura”, ensina o pai do Mix Amazônia, Judson Valentim.

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