A diretora executiva da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Perpétua Almeida, é uma personagem necessária na cena econômica atual. Não apenas para responder com elegância às brutalidades de lideranças políticas que acham que o Acre só planta café há dois anos. Perpétua é necessária porque alia duas pontas estratégicas da vida econômica: o cooperativismo e os centros de ensino superior.
Se o Acre hoje está com quatro unidades industriais sendo gestadas, isso se deve muito às articulações de Perpétua Almeida junto aos ministérios, em Brasília, e também no sobe e desce nos barrancos dos rios acreanos em busca de organizar cadeias produtivas. Nesta breve entrevista após a entrega do Quali Café, ela mostra que quer atar as pontas para não deixar nenhuma lacuna, sobretudo na rotina do agricultor de base familiar.
Qual sua avaliação do QualiCafé 2025 no Acre?
O QualiCafé é um evento fundamental. Ele estimula um esforço coletivo, ano após ano, para que cada produtor se aperfeiçoe e eleve a qualidade do seu café. Como disse na minha fala: mais importante do que quem ficou em primeiro ou em último lugar é o compromisso de todos em produzir o seu melhor café. Esse concurso é um símbolo do avanço da cafeicultura acreana e da valorização do trabalho dos pequenos produtores.
O que mais lhe chamou atenção nesta edição do concurso?
O que mais me chamou atenção foi o nível de excelência. As notas ficaram altíssimas e muito próximas entre si, mostrando que não há mais “grande diferença” entre o primeiro e o último colocado. Isso é um sinal claro de que o Acre está consolidando uma cultura de qualidade — nossos produtores estão dominando as boas práticas e produzindo cafés que já podem competir com os melhores do país.
A ABDI foi a principal parceira da Seagri e garantiu R$ 55 mil em premiação. Por que a ABDI decidiu apostar tão alto no café do Acre?
Nós acreditamos no potencial do Acre e no poder transformador da agricultura familiar. Na Diretoria de Economia Sustentável e Industrialização, criamos o programa COOPERA+, voltado justamente para industrializar a produção da agricultura familiar. No Acre, já temos quatro indústrias em implantação — uma de açaí e três de beneficiamento de café. Uma delas, inclusive, já foi entregue à COOPERCAFÉ, no Juruá, que está mudando a economia daquela região. O Jonas Lima, presidente da COOPERCAFÉ, tem me surpreendido positivamente com os melhores números do crescimento econômico do Juruá. Premiar o primeiro lugar do QualiCafé é uma forma de reconhecer esse esforço e incentivar a produção de qualidade. Quando o produtor melhora a qualidade, ele aumenta sua renda, fortalece a economia local e ajuda a consolidar uma nova indústria sustentável no estado.

O campeão do QualiCafé 2025 produz em uma área pouco maior que dois hectares. O que isso revela sobre o perfil do produtor acreano?
Revela a verdadeira cara do Acre: um estado formado majoritariamente por pequenos produtores, homens e mulheres da agricultura familiar. Esse público é o que mais precisa de apoio, incentivo e investimento do poder público. Por isso, é urgente garantir melhores ramais, infraestrutura de escoamento, acesso à industrialização e mercados. O sucesso do QualiCafé mostra que o pequeno produtor, quando tem oportunidade e apoio, entrega um produto de excelência.
Quais as próximas ações da ABDI no Acre em relação ao café?
Ainda em novembro, vamos dar ordem de serviço para duas novas indústrias de café, em parceria com a COPERCAFÉ. Os recursos do orçamento/2025 — R$ 6,5 milhões — já estão disponíveis desde fevereiro, aguardando apenas a finalização dos projetos e da documentação. As duas cooperativas beneficiadas são ligadas à Cooperacre, e as fábricas serão instaladas em Capixaba e Acrelândia. Além disso, assinaremos dois convênios com o IFAC: O primeiro, com o Campus Rio Branco – Baixada do Sol, na Transacreana, para implantação de infraestrutura mínima de análise de solo e tecido vegetal, com máquinas e implementos agrícolas para o preparo correto das áreas produtivas;
O segundo, com o Campus Rio Branco, cria o Aquiry InovaHub, um ambiente de inovação voltado à capacitação, difusão de conhecimento e geração de negócios sustentáveis, começando pela cadeia do café.
O objetivo é formar novos profissionais — baristas, empreendedores e técnicos — e fortalecer as cadeias produtivas locais. O café será a primeira, mas outras virão. Estamos construindo um modelo de industrialização sustentável com base no conhecimento, na inovação e no valor do trabalho local. Esses dois Convênios com o IFAC ficaram em torno de 6 milhões de reais.