“Pecuária brasileira nunca esteve em um momento tão bom”, avalia presidente da ABCN

Victor Miranda avalia que o pecuarista no país está mudando para melhor a forma de produzir carne

Redação
Victor Miranda avalia mercado global da carne e como o Brasil vive um bom momento. (Foto: ABCN/Divulgação)

Em entrevista ao site Agro Estadão, o presidente da Associação Brasileira da Raça Nelore (ABCN), Victor Miranda, demonstrou otimismo em relação ao futuro da comercialização de carne no Brasil. Há razões que explicam o bom humor. O volume recorde de exportações. Mas o consumo interno que, segundo Miranda, segue aquecido.

Leia a íntegra da entrevista concedida à repórter Sabrina Nascimento, que viajou à convite da Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne.

Como o senhor avalia o momento atual da pecuária brasileira?

Eu acho que a pecuária nacional nunca esteve num momento tão bom, não só para exportação da proteína vermelha como também para o consumo no mercado interno. A oportunidade que se abriu para o Brasil com essa guerra comercial dos Estados Unidos com a China é enorme. Nós já somos o maior exportador de proteína vermelha e vamos ser o maior produtor a curto prazo, porque não tem ninguém com capacidade, força de trabalho, com o clima que nós temos e com o território que nós temos. Nós produzimos em quantidade e com qualidade. O custo da proteína vermelha brasileira é imbatível.

O senhor falou da guerra comercial entre EUA e China, mas há ainda o fato de os EUA estarem recompondo o rebanho deles. O senhor acha que essa também é uma oportunidade para o Brasil nesse cenário?

Eu acho que os Estados Unidos, cada vez mais, vão importar a proteína vermelha do Brasil. Eles vão destinar as áreas que têm para produção de grãos, coisa mais nobre. O custo da tonelada em dólar do Brasil não chega a US$ 6 mil, enquanto nos Estados Unidos passa de US$ 10 mil. Eles vão manter sim uma produtividade para ter uma segurança alimentar, mas a proteína vermelha demanda tempo, investimento e dedicação para produzir. E o Brasil é imbatível e vai continuar conquistando o mercado pela qualidade e pelo custo.

E com uma demanda crescente pelo produto brasileiro, como o produtor pode aumentar essa produção? Os confinamentos são um caminho?

O Brasil começou a enxergar que a pastagem tem que ser tratada como cultura. Tem que ter adubação de plantio, adubação de cobertura. A pecuária nacional está se profissionalizando, mesmo porque os grãos estão tomando as áreas mais nobres. Temos tecnologia, melhoramento genético e vários programas de melhoramento. A raça Nelore é a base da pecuária nacional.

O Brasil recebeu a chancela da OMSA de país livre de aftosa sem vacinação. Como vocês acompanham isso dentro da associação?

É uma grande oportunidade, conquistada com muito esforço. Mas temos que ter responsabilidade e vigilância enorme, porque o que demoramos anos para conquistar podemos perder instantaneamente. Precisamos investir na vigilância e no controle das nossas divisas.

E na questão de proteção, alguns estados ainda não têm um fundo indenizatório para casos de aftosa. Isso é um ponto de alerta?

Eu acredito que todas as regiões vão criar esse fundo. Acho que, se houver um foco de aftosa, vamos seguir o protocolo para proteção nacional. Vamos ter que abater esses animais e indenizar o pecuarista. Então, independentemente do governo, a pecuária nacional precisa ser reconhecida como um pilar da nossa economia e temos que, cada vez mais, incentivar e proteger a produção de alimentos para a segurança alimentar, não só do Brasil, mas mundial. 

Falando de custo de produção, o pecuarista está conseguindo balancear as contas?

Salário, insumos e combustíveis sobem e descem, então, os pecuaristas têm que tratar a pecuária como uma empresa e saber guardar nos momentos bons para passar por momentos difíceis, porque a pecuária é um ciclo. Mas nós temos que, cada vez mais, produzir com qualidade e aumentar a exportação para não ter uma discrepância tão grande do momento bom para o momento ruim. E um caminho é o uso de tecnologia que está disponível e, claro, com atenção à responsabilidade ambiental e combater quem fala mal do nosso país.

A ABCN vai promover o circuito Nelore de qualidade com foco no melhoramento genético. Como vai funcionar?

Nós estamos organizando um circuito Nelore de qualidade, que é uma importante ferramenta do melhoramento genético. Nosso objetivo é mostrar que é possível produzir quantidade com qualidade. Nós incentivamos os pecuaristas a levar o animal precoce, mais jovem, com cobertura ideal de gordura. E agora, juntamente com a ABCZ [Associação Brasileira dos Criadores de Zebu], vamos fazer o genoma desse animal e identificar os pais. Então, o melhoramento genético da raça Nelore não para. 

O senhor foi reeleito para presidir a ABCN por mais dois anos. Nesse próximo período, qual será o foco da sua gestão?

Quero demonstrar que a raça Nelore é única, apesar de suas variedades. Nós temos Nelore mocho, temos Nelore padrão, que é o de chifre, e temos Nelore pelagens. Temos essa raça em pista, em melhoramento genético e em outros projetos. Mas a raça Nelore é única e precisamos reforçar isso, principalmente os fundamentos industriais que são a base dessa raça. Então, precisamos trabalhar juntos para alavancar ainda mais a raça e garantir a qualidade e a quantidade que o mercado exige.

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