Produção de açaí cresce no Acre, mas produtores enfrentam desafios com clima e falta de apoio

Mesmo com reconhecimento nacional e incentivos pontuais, cadeia do açaí ainda convive com dificuldades que afetam a produção e a qualidade do fruto

Luiz Eduardo Souza
Selo de Identificação Geográfica é um marco para qualificar a cadeia produtiva do açaí na regional do Tarauacá/Envira. (Foto: Marcus Vicentti)


Símbolo da Amazônia e cada vez mais presente nas mesas brasileiras, o açaí ganha espaço no Acre como alternativa econômica sustentável. Em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado produziu 4.030 toneladas do fruto. O município de Tarauacá liderou com 1.791 toneladas, seguido por Feijó, com 1.500 toneladas.

O reconhecimento da importância do produto chegou em março deste ano, com a certificação da Indicação Geográfica (IG) de Procedência do Açaí de Feijó — a primeira do tipo concedida a um açaí no Brasil. A conquista foi fruto de uma articulação entre o Sebrae, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), associações e produtores locais.

O selo IG valoriza a qualidade do produto e a tradição envolvida em seu cultivo, além de abrir novas possibilidades de comercialização com valor agregado. A Seagri teve papel fundamental no processo de certificação, realizando o mapeamento de produtores e apoiando a organização comunitária da cadeia produtiva.

Investimentos e desafios

Além de contribuir com a certificação, a Seagri também investiu no fornecimento de mudas de açaí, promoveu treinamentos em boas práticas e higiene no processamento do fruto e articula ações para recuperação de áreas degradadas utilizando o açaí como componente de Sistemas Agroflorestais (SAFs), por meio de recursos do Fundo Amazônia.

Apesar dos avanços, a cadeia ainda enfrenta dificuldades que limitam seu pleno desenvolvimento. As mudanças climáticas são um dos principais entraves relatados pelos produtores. Altas temperaturas e instabilidade nas chuvas impactam diretamente a qualidade do grão e a produtividade.

“Bem, com o passar dos tempos, uma das maiores adversidades são as questões climáticas, pois com as altas temperaturas o grão não tem a mesma qualidade e acaba caindo muito a produção”, relata Júlia Graciela de Souza, presidente da Cooperativa Açaícoop, de Feijó, considerada a primeira produtora de açaí do Acre.

À frente da cooperativa e com uma agroindústria própria, Júlia acompanha há anos os altos e baixos da produção e destaca outro problema: a falta de políticas públicas contínuas. “Hoje os produtores não contam com nenhum programa nem incentivo por parte do governo”, afirma.

Perspectivas e potencial

Mesmo diante dos obstáculos, o açaí segue como uma das cadeias com maior potencial de crescimento no Acre, especialmente nas regiões do Juruá, Tarauacá e Envira. Com o avanço das certificações, o investimento em práticas sustentáveis e o fortalecimento das organizações de base, a expectativa é que a cultura do açaí se consolide como um vetor de desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

Para isso, no entanto, os produtores pedem mais do que visibilidade: é preciso garantir suporte técnico, financiamento acessível, políticas de adaptação às mudanças climáticas e continuidade nos investimentos públicos que consolidem a cadeia de forma estruturada.

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