Fundação Txái reage à invasão da Terra Indígena Kaxinawá

Em postagem em rede social, indigenista cobra do poder público “medidas de fiscalização e posição de combate” às invasões

Itaan Arruda
Terra Indígena Kaxinawá, em Tarauacá, sofre com invasões e derrubadas ilegais, segundo denúncia da comunidade local. Foto: Cedida

A invasão à Terra Indígena Kaxinawá (antigo Seringal Independência) provocou reação imediata da Fundação Txái. Uma das lideranças do organismo não governamental, o indigenista Antônio Macêdo. Em postagem nas redes sociais, exigiu “medidas de fiscalização e posição de combate” às invasões.

“A Fundação Txái, em estrito cumprimento do dever de resposta (sic), já está requerendo junto às autoridades competentes a às instituições do poder público medidas de fiscalização e tomadas de posição em combate a tais comportamentos”, avisou Macêdo.

A terra está localizada no município de Jordão e, segundo representantes da comunidade, tem sido invadida com regularidade por não indígenas para praticar derrubadas e caças na região. Os vestígios dos crimes estão em vários locais.

Na Terra Indígena vivem cerca de 500 pessoas. Esses episódios de derrubadas e caças predatórias (com a utilização de cachorros) deixam uma sensação de insegurança grande na comunidade. E a reação lenta das autoridades federais em relação aos casos de violência torna o cenário de vulnerabilidade perigoso para todos.

“Eles intensificaram. A invasão continua e os impactos na terra indígena são os mesmos”, afirmou Cristina Huni Kuin (denominação no tronco linguístico Pano). Cristina afirma que esse problema existe com mais regularidade desde 2012.

O indigenista Txái Macêdo foi procurado pela reportagem, mas não pode se pronunciar no momento. No decorrer do dia, o ac24agro vai entender melhor as providências formais que o problema vai exigir da comunidade.

Carta de antropólogo indígena evidencia a violência a que os indígenas estão submetidos

O indigenista Antônio Macêdo, em uma postagem feita no último dia 7 de março, lembrou de uma carta do antropólogo Yawa Bane HuniKuin. Em linguagem muito simples, o texto expõe o cenário de violência e vulnerabilidade que as comunidades indígenas vivem. Segue a transcrição na íntegra.

“Algumas pessoas não acreditam nas palavras que a natureza transmite”

Atenção as comunidades das 35 aldeias, temos que ter cuidado com a nossa terra, o nosso rio. Vamos criar e palntar para termos mais saúde e menos necessidade alimentar(não passar fome) junto com nossas famílias, vamos manter o respeito, vamos acabar com a maconha, conhecida por churú, vamos acabar como as bebedeiras, índio não pode virar alcoólatra. A bebida causa violência. Devemos dar importância aos trabalhadores, temos que ter escolas, saúde. Vamos criar campos, gados, galinhas, patos, porcos…

Devemos plantar muitos legumes, mandioca, banana…peço encarecidamente aos pajés acreanos para nos mobilizarmos para acabarmos com a fome dos nossos irmãos indígenas. Essa é uma lei dos servidores, políticos, militares junto com a união federal, civil. O que somente vale com a marca dágua, justiça eleitoral, queremos direto da nossa ciência medicinal, seringueiros. Não queremos que ninguém nunca acabe com nossas ciências e cultura. Nossos instrumentos são de qualidades, somos seringueiros indígenas, também temos nossas religiões, uns são do vegetal, outros são populares da igreja católica, temos também os indígenas que são servidores públicos, queremos respeito. Nós também merecemos respeito.

Algumas pessoas não acreditam nas palavras que a natureza transmite, nós também somos servidores da natureza, preservamos a terra , a água, o ar, o sol, a lua  e as estrelas. O mundo santo da ciência é o nome que se dar para nosso grupo de servidores da natureza.

A.T. Franciso Senhorzinho Sena Hunikui
Servidor público: policial militar

Compartilhar esta notícia
Itaan Arruda. Jornalista. Foi correspondente no Acre dos jornais Gazeta Mercantil Amazonas e O Estado de S. Paulo e repórter do jornal A Tribuna. Atuou na Secretaria de Estado de Comunicação nas gestões de Jorge Viana e Binho Marques. Foi repórter do jornal A Gazeta, editor do site agazeta.net e apresentador da TV Gazeta, afiliada à Record TV no Acre. Produziu e apresentou o programa de rádio "Voz do Povo", na Rádio Cidade. Atuou também como redator do site ac24horas. Hoje, é repórter do site ac24agro.
Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *