Críticas ao contingenciamento do Seguro Rural expõem contradição do “agro”

De uma forma geral, lideranças políticas e agrícolas que representam o setor negam as mudanças climáticas, mas o interesse em torno do tema e as evidências se impõem e acabam revelando que, de fato, o ambiente está contaminado pelos aspectos políticos e ideológicos

Itaan Arruda
Agricultores pedem mais recursos para o Seguro Rural diante dos eventos climáticos © CNA/ Wenderson Araujo/Trilux

O anúncio do Plano Safra 2025/2026 para o segmento da Agricultura Empresarial feito pelo presidente Lula, pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não trouxe nenhuma informação sobre o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural. De fato, o assunto (durante a solenidade de lançamento) foi, praticamente, ignorado.

No orçamento de 2025 para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), havia sido colocado o montante de R$ 1,06 bilhão. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil pleiteava R$ 4 bilhões. A resposta do Governo Federal veio de maneira que só piorou ainda mais o ambiente político: bloqueou e contingenciou R$ 445,16 milhões.

Para azar do Governo Federal, a região Sul vive outra sequência de problemas com os efeitos das mudanças climáticas. Alagações, frentes frias extremas, temperaturas abaixo de zero. Os economistas e analistas de mercado do setor agrícola afirmam com frequência que os agricultores das regiões Sul e Nordeste deveriam vincular o ato de plantar ao acesso ao Seguro Rural. Sem isso, o risco é muito alto, seja qual for o plantio.

O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural é uma ferramenta cada vez mais necessária a quem se arrisca na Agricultura. Os eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes e precisam encontrar uma reação imediata do poder público integrado ao sistema financeiro. E isso deveria ensinar não apenas ao Governo Federal, mas ao próprio setor produtivo.

Muitas lideranças políticas e agrícolas negam as mudanças climáticas e a importância da ação humana como geradora desse cenário. O que é uma contradição. A classe que nega os efeitos e as causas é a mesma que exige do poder público acesso a recursos para cobertura de prejuízos causados pelos eventos climáticos extremos.

A postura acaba expondo como há uma contaminação do ambiente partidário e ideológico na condução dos pleitos.

O fato é que o contingenciamento anunciado pelo Governo Federal, de forma automática, vai diminuir a área de cobertura do Seguro Rural. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) lembra, estrategicamente, que a maior cobertura da história, com 13,7 milhões de hectares, aconteceu em 2021. Ano passado, de acordo com a CNA, essa cobertura foi reduzida para 7,16 milhões de hectares. A estimativa da CNA é que, no atual ciclo, não ultrapasse 4 milhões.

“A omissão e descaso do Governo com o Seguro Rural são inaceitáveis – o seguro é o pilar de proteção climática no campo”, entende a CNA. “Tal situação tem acentuado o aumento da inadimplência do setor nos últimos anos”.

Área Coberta com o PSR (Milhões de Hectares)

AnoÁrea (Milhões ha)
202113,70
20227,11
20236,13
20247,16

Fonte: CNA

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