O pátio do Posto Mirian, no Km 691 da BR-364, retrata como a infraestrutura em logística está ausente da agenda pública. Sem ter como descarregar em uma das estações de transbordo de carga (ETC) da Cargill, localizada em Porto Velho, os caminhões carregados de soja estacionam no posto de apoio da rede Mirian, localizada na zona rural do município rondoniense de Candeias do Jamari.
Um após o outro, vão preenchendo o espaço: 1,1 mil; 1,2 mil. O número só aumenta. Foram tantos caminhões que não conseguiram desembarcar a carga na última semana que outras 100 carretas tiveram que ficar na beira da BR-364 porque o pátio do posto de apoio já estava lotado.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Rondônia (Aprosoja) é uma das vozes mais ativas na cobrança de medidas urgentes para que os governos Estadual e Federal mudem esse cenário, em parceria com a iniciativa privada.
“É evidente que a infraestrutura da logística do Estado não está acompanhando o crescimento do setor agrícola. A área de soja vem aumentando dez, doze, dezesseis por cento de uma safra para outra e a logística é a mesma?! Como pode isso?”, pergunta, em tom de indignação, o diretor executivo da Aprosoja, Victor Paiva. Há uma semana, Paiva viu a cena dos caminhões sem poder desembarcar a carga. Na quinta (6), ele retornou ao município de Candeias do Jamari. “Estava pior”.
A falta de infraestrutura que dê conta de escoar a produção de soja na estação de transbordo de cargas da Cargill em Porto Velho é apenas um dos gargalos enfrentados pelos produtores. A ETC da Cargill tem capacidade de absorver 9 mil toneladas diárias (200 carretas). A capacidade de armazenamento é de 39 mil toneladas acomodadas em quatro silos da empresa. A capacidade de embarque é de 10 mil toneladas por dia (quatro barcaças). Mesmo com essa estrutura superlativa, os caminhoneiros esperam entre dois e cinco dias para desembarcar a carga.
A safra 2023/2024 de soja em Rondônia foi de 2,1 milhões de toneladas. Issa é apenas parte da soja que passa por Porto Velho. Parte da soja do oeste matogrossense também utiliza a estação.
E a situação tende a se agravar porque a área plantada, em Rondônia, está aumentando. Na safra de 2022/2023, o Estado plantou 560 mil hectares. Na safra 2023/2024, passou para 643 mil. “Na safra de 2024/2025, vamos alcançar setecentos mil hectares”, estima Paiva. “E isso vai fazer com que nós, tranquilamente, alcancemos dois milhões e meio de toneladas”. Esse cálculo tem como referência a produtividade média de Rondônia que está em 60 sacas por hectare.
Os números apresentados pelo diretor executivo da Aprosoja estão revelando para as autoridades e empresas do segmento de logística que ou a infraestrutura passa a ser prioridade da administração pública ou o escoamento da produção de soja corre o risco de travar.
A região com produção consolidada de soja em Rondônia é o Cone Sul. Os municípios de Alvorada, São Miguel do Guaporé, Seringueiras, São Francisco do Guaporé, São Domingos e Costa Marques respondem por 40% da área plantada no Estado.
O Vale do Rio Jamari (ou simplesmente Vale do Jamari) tem a cidade de Ariquemes como polo de referência para os produtores. Somada aos municípios de Alto Paraíso, Rio Crespo, Cujubim e Machadinho do Oeste, essa região tem 22% da área plantada de soja no Estado de Rondônia e é apontada como uma área em expansão.
Outra região que amplia a área de produção de grãos é a Região Norte do Estado, incluindo a Capital, Porto Velho. Itapoã do Oeste, Candeias do Jamari (especificamente o distrito de Triunfo), Nova Mamoré e Guajará Mirim são responsáveis por 19% da área plantada. A Região Norte de Rondônia também é classificada como área de expansão da soja.
Gargalos do setor
- Armazenamento (é um problema que o próprio produtor precisa resolver “da porteira para dentro”. Não é uma demanda do poder público)
- Regularização fundiária
- Mão de obra qualificada
- Infraestrutura (estradas, pontes, estações de transbordo)
Moratória da soja tem relação com acordos comerciais com mercado europeu, afirma diretor
O diretor executivo da Aprosoja de Rondônia, Victor Paiva, relata que os acordos comerciais que foram estabelecidos entre as trades (grandes empresas que comercializam a commodity) e o mercado europeu têm prejudicado os produtores e, consequentemente, alguns municípios de Rondônia. Ele se refere especificamente à Moratória da Soja.
Trata-se de um mecanismo que o Governo Federal criou para reduzir o desmatamento. Algo semelhante ao que já ocorre com a carne de boi: a ideia é fazer com que as empresas não comprem a commodity oriunda de área de desmatamento ilegal.
Paiva contesta o método. “A moratória da soja é um acordo comercial que as trades multinacionais fizeram com o mercado europeu para não comprar de área desmatada, independente se é legal ou ilegal”, afirma o diretor. “É uma questão de mercado. Estão levando a sério isso aí e estão prejudicando demais, e respingando no desenvolvimento de alguns municípios, principalmente no norte do Estado. E esse acordo de mercado das trades está prejudicando demais o produtor”.