Decisão do Pará de adiar rastreabilidade bovina não impacta Acre

A avaliação é do secretário de Estado Adjunto de Agropecuária, Edivan Azevedo, que desvinculou qualquer tipo de influência da decisão paraense na implementação da agenda acreana. “Para o Estado do Acre e demais estados da Amazônia, não muda nada”, garantiu

Itaan Arruda

O Governo do Pará anunciou nesta quarta-feira (3), o adiamento do início da rastreabilidade bovina no Estado. A decisão do governo paraense repercutiu no Acre. O secretário adjunto de Estado de Agropecuária, Edivan Azevedo, descartou qualquer tipo de influência no cronograma da agenda acreana.

“Essa iniciativa era individual do Estado do Pará. Não tem nada a ver com o cronograma do Mapa”, diferenciou Azevedo. “Para o Estado do Acre e demais estados da Amazônia, não muda nada”.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, aborda a questão por outro viés, mais próximo da natureza política que o tema permite. “Certamente, essa questão da rastreabilidade não vai trazer vantagem nenhuma para o produtor. Ao contrário: vai aumentar custos. Por isso, nós somos contra”, afirmou Veronez. “É claro que a Europa impõe algumas condições nesses produtos vindos da Amazônia e isso está embutido (sic) nessa pressão europeia que ficou fragilizada nos últimos meses”.

Veronez acredita que a decisão do Pará pode ter influência na agenda política dos governos estaduais, que têm demandas próprias e mais urgentes na relação com a classe dos pecuaristas.

“Essa mudança no Estado do Pará é significativa porque era o Estado pioneiro nisso, que aceitou essas regras, aceitou a implementação do programa. Sempre foi o vanguardista nisso. E agora o próprio governo do Pará baixa uma medida suspendendo as exigências e passando para 2031 porque isso, efetivamente, vai trazer prejuízo para a pecuária da Amazônia e de difícil implementação nesse estágio em que nós estamos”, avaliou o presidente da Faeac.

Para Assuero Veronez, o “estágio em que nós estamos” guarda relação com os problemas relacionados à regularização fundiária e aos embargos ambientais, os dois principais gargalos dos produtores de carne do Acre. “Falta um monte de coisas que deveriam ser prioridades, como a questão fundiária e a questão ambiental”, disse. “Está se criando tanta obrigação para o produtor da Amazônia que está ficando difícil de trabalhar aqui”.

O que motivou a decisão paraense?

O governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, justificou a decisão de adiar o início da rastreabilidade no Estado porque, segundo ele, o mercado não reconheceu os investimentos feitos pela classe dos pecuaristas em rastrear o gado bovino.

Segundo Barbalho, não houve um “movimento de mercado para o reconhecimento destas práticas”. Foi no Pará, em 2019, onde aconteceu a assinatura do primeiro Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público Federal que, na ocasião, criou o programa Boi na Linha, em parceria com a ONG Imaflora.

A ideia tem como meta oferecer uma pecuária de base ambientalmente sustentável, com o consumidor tendo conhecimento de todo o percurso da carne. Foram feitos investimentos e firmados compromissos. O que o governador argumenta é que, de 2019 até hoje, esses investimentos não tiveram o retorno proporcional. 

Ao jornal Estadão Agro, o governador paraense deu a seguinte declaração: “Infelizmente, passado um ano deste movimento [rastreabilidade], nós não tivemos a abertura de nenhum mercado novo, portanto, demonstrando claramente que não era a rastreabilidade individual que iria motivar novos mercados e, sim, eventualmente, o lobby de interesses que possam ter”.    

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