A demanda por café no mundo não deve diminuir nos próximos anos. E o Brasil conta com atenção os números. Para a safra brasileira do ciclo 2025/2026, a Conab estimou em 51,80 milhões de sacas de café. O mercado coloca um adicional de aproximadamente 15% ao número da companhia estatal: 59,5 milhões. O Acre tem pouco a ver com esses números. Mas a ApexBrasil percebeu um nicho em que o Acre pode ter vantagens comparativas em relação aos outros estados.
No evento que organizou ontem (3), Jorge Viana trouxe um grupo seleto de pessoas que pensam e trabalham a cafeicultura naquilo que há de mais refinado. E quando o assunto ganha esse nível, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) tem autoridade para apontar rumos. E dentro da BSCA, a mineira de Três Pontas Carmen Lúcia Chaves de Brito disse o que sentiu.
“O que nós estamos descobrindo de uns anos pra cá? Que os canéforas brasileiros são simplesmente maravilhosos. Vocês, que produzem o robustas amazônico do Acre, vocês entregam nas xícaras perfis sensoriais únicos, encantadores, impactantes e que, realmente, quando você coloca esse café na boca, você diz ‘Meu Deus! O que é isso aqui!?’”, descreveu Ucha, como é conhecida no comércio do café a presidente da BSCA.
É por isso que nós estamos aqui hoje: para convocar os produtores daqui, os cafeicultores e cafeicultoras aqui do Acre para que realmente tentem fazer o diferencial, tentem colocar, de fato, o seu manifesto em cada xícara, honrar essas cultivares maravilhosas que vocês estão plantando aqui. Cuidar disso, zelar esse café para que a gente consiga entregar o que eles têm de potencial sensorial nas xícaras para que o mundo entenda que aqui também na região Amazônica eles podem encontrar cafés incríveis para agradar a todos os paladares do mundo”.
Esse é o espírito. O estímulo apresentado pela ApexBrasil é para que o produtor local perceba o apelo que o café produzido aqui tem. O depoimento da presidente Ucha deixa isso muito evidente, obedecendo ao tripé: rentabilidade dos negócios, com responsabilidade social e com defesa do patrimônio ambiental.
“Eu, como presidente da Apex, trabalho com a BSCA, a Associação Brasileira de Cafés Especiais, eu trabalho com a Associação Brasileira das Indústrias de Café, eu trabalho com o Cecafe [Conselho dos Exportadores de Café do Brasil]. Onde eu vou com o presidente Lula, lavamos dezenas de representantes de vários segmentos da nossa economia e o café é símbolo. De cada três xícaras de café que são consumidos no mundo, uma sai do Brasil. Mas ele é pouco industrializado e a fama ainda não é do tamanho que nós deveríamos ter”, contextualizou o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
A fala é representativa de um gestor que observa todos os segmentos do café: da commodity ao café especial. O que incomoda Viana é dar ao café especial o mesmo tratamento (e preço) ao oferecido à commodity. A contextualização de Viana também expõe o incômodo no pouco valor agregado que o produto brasileiro tem. Quando ele afirma que o café “ainda é pouco industrializado”, Viana indica que quer agregação de valor ao que é colhido aqui. Nesse ponto, é que o Acre pode ter valores muito diferenciados, comparados a outros lugares.
O café plantado em antigas áreas degradadas, sem problemas de ordem trabalhista na forma de produzir, com Indicação Geográfica e com a história de luta pela preservação ambiental que o Acre tem são fatores poderosos na hora de negociar. A Apex está apresentando e refinando esses elementos. Uma saca de 60Kg negociada a R$ 5,4 mil mostra que o rumo tem encontrado a orientação correta.

