A equipe da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) se debruça sobre a cadeia produtiva do açaí no Acre. Tem o desafio de fazer com que o fruto traga consequências sustentáveis do ponto de vista ambiental e econômico aos extrativistas da região. Até agora, os ensaios custeados pela Prefeitura de Feijó e com o apoio do Governo do Acre não se viabilizaram. Um dos principais gargalos é um velho conhecido: o marreteiro do açaí.
É comum a imagem de caminhões com câmara fria pararem às margens do Rio Jurupari. Saem de lá abarrotados. Levam a fruta para ser beneficiada em Rondônia. Uma parte da extração abastece empresas de Rio Branco também.
Em que momento do processo a ABDI precisa intervir? Não é simples desestruturar a atuação do marreteiro do açaí. Primeiro é preciso lembrar que o açaí é uma fruta muito perecível. Se não houver transporte rápido, a possibilidade de haver perda é grande. O marreteiro sabe disso e já tem uma logística consolidada na região do Vale do Envira.
É preciso um trabalho de formação, conscientização e valorização em parceria com Sindicato dos Trabalhadores Rurais, AçaíCoop, Sebrae, Prefeitura de Feijó, Governo do Acre para fazer com que a extração seja canalizada para o Complexo Industrial do Açaí. É essa unidade industrial que pode mudar as coisas por ali.
A sintonia entre a AçaíCoop e a ABDI precisa estar refinada. Recentemente, em um trabalho que exigiu muito esforço dos técnicos do Sebrae, foi conquistada a Indicação Geográfica (IG) do açaí de Feijó. Este selo atesta a qualidade do fruto. Traz também o valor de algo que é singular. O atestado de origem é parte do processo. Mas ele isoladamente não diz muito. É preciso que a cadeia integral tenha sustentabilidade.
O Governo do Acre precisa mudar de postura. Não é razoável que o Governo Federal faça o investimento na construção do Complexo Industrial do Açaí de Feijó e os caminhões com câmaras frias continuem com a sangria para outras cidades ou até mesmo para outros estados. Ou a fiscalização atua de maneira a desestimular esse trânsito, ou Feijó vai continuar com modestas 30, 40 toneladas mensais.
O Complexo Industrial do Açaí de Feijó não pode cair no erro de outros grandes projetos no Acre que não cuidaram da base de produção. Com um detalhe: a ABDI precisa avaliar com atenção a necessidade de que o Banco da Amazônia entre como parceiro no incentivo à produção do açaí de cultivo. Será muito arriscado entender que o abastecimento da unidade industrial ficará apenas com a extração silvestre.
Nessa nova tentativa de retomada da consolidação da cadeia produtiva, todos os passos estão sendo cuidadosamente planejados: selo de identificação, seção de terreno para cooperativa para construção da indústria de beneficiamento, projeto da ABDI para a edificação da unidade. Agora, é um momento crucial para a Cooperativa de Produtores, Coletores e Batedores de Açaí de Feijó (AçaíCoop) fazer intenso trabalho de formação. Paralelo a esse trabalho, a Seagri precisa intervir com uma política de preço que estimule o extrativista a vender o que colhe para a indústria e não ao marreteiro. Ou há um trabalho integrado, ou a experiência será só mais um solavanco amassando a esperança do extrativista de Feijó.