Marchetaria: o talento acreano que transforma madeira da floresta em arte

Com peças únicas produzidas por artistas locais, a marchetaria ganha espaço no cenário acriano como expressão cultural, geração de renda e valorização da madeira amazônica

Luiz Eduardo Souza

Em meio à vasta biodiversidade da Amazônia, um ofício ancestral ressurge com força no Acre, conectando tradição, identidade cultural e economia criativa: a marchetaria. A técnica artesanal que utiliza diferentes tipos de madeira para compor imagens, padrões e texturas vem se consolidando como alternativa de renda para artistas e artesãos, além de representar uma nova forma de valorização dos recursos naturais da região.

A arte da marchetaria consiste em aplicar pedaços de madeira — de cores e texturas diversas — sobre uma superfície, formando mosaicos ou desenhos figurativos. É um trabalho minucioso, feito com precisão e sensibilidade, que revela paisagens, animais, cenas do cotidiano e símbolos da cultura amazônica sem o uso de tintas ou aditivos. Apenas madeira, técnica e talento.

Artistas que levam o Acre para o mundo

Um dos nomes de destaque no cenário da marchetaria acriana é o artista Maqueson Pereira, de Cruzeiro do Sul. Seu trabalho, marcado pela delicadeza e originalidade, já foi destaque até em galerias internacionais. Usando exclusivamente madeiras nativas, como o mogno, cedro, louro e marupá, ele cria painéis e peças decorativas que retratam elementos da floresta e da vida ribeirinha.

Maqueson representa uma geração de artistas que alia sustentabilidade, ancestralidade e inovação, promovendo a marchetaria como linguagem artística e instrumento de valorização da identidade regional. Seu perfil nas redes sociais (@maquesonpereira) é vitrine de obras que encantam tanto o público local quanto compradores de fora do país.

Valorização em feiras e salões de artesanato

O mercado da marchetaria no Acre vem ganhando espaço em eventos como a Expoacre, o Salão do Artesanato e feiras regionais organizadas pelo governo do Estado e instituições como Sebrae, Fundação Elias Mansour e Secretaria de Turismo e Empreendedorismo. Nessas ocasiões, artesãos têm a oportunidade de mostrar e vender suas criações, muitas delas feitas a partir de resíduos de madeira ou do reaproveitamento de sobras de marcenaria, reforçando o caráter sustentável da atividade.

A Marchetaria do Acre, projeto que circula pelas redes sociais com fotos de obras e bastidores da produção, é outro exemplo de como o setor tem crescido. O projeto funciona como ateliê, espaço de formação e ponto de comercialização de peças únicas, reunindo artistas que acreditam na madeira como meio de expressão e instrumento de transformação social.

Potencial econômico e cultural

Apesar de ainda ser um mercado em formação, a marchetaria apresenta enorme potencial de expansão no Acre, sobretudo em áreas como:

  • Turismo cultural e de base comunitária, com peças artesanais sendo oferecidas como lembranças e decoração;
  • Arquitetura e design de interiores, com painéis exclusivos e mobiliário artístico;
  • Educação e oficinas criativas, como ferramenta de formação e inclusão social em comunidades rurais e urbanas.

A valorização da marchetaria também contribui para o uso responsável da madeira amazônica, com enfoque em espécies de manejo florestal sustentável, pequenas madeireiras e cooperativas locais.

Desafios e oportunidades

Os principais desafios enfrentados pelos artesãos incluem o acesso a ferramentas adequadas, capacitação técnica, fomento à comercialização e políticas públicas específicas para o setor. Por outro lado, o crescente interesse por produtos artesanais, sustentáveis e com identidade regional abre portas para o fortalecimento da marchetaria como uma marca do Acre.

Com incentivo, capacitação e visibilidade, o estado tem tudo para se tornar referência nacional nesse tipo de arte, transformando madeira em cultura, e cultura em desenvolvimento.

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