Em Manoel Urbano, no coração da floresta amazônica, um projeto tem provado que desenvolvimento sustentável e protagonismo feminino podem — e devem — andar lado a lado. Criado pela Associação Mulheres da Terra (AMT), o “Mãos que Acolhem” está transformando vidas, resgatando saberes ancestrais e mostrando que é possível gerar renda com a floresta em pé.
Entre os dias 8 e 25 de maio, mais de 30 mulheres de comunidades indígenas, ribeirinhas e da agricultura familiar dos municípios de Manoel Urbano, Feijó e Sena Madureira participaram de um curso intensivo de capacitação no beneficiamento de sementes amazônicas. O treinamento foi conduzido pelo professor indígena Antônio Apurinã, com apoio técnico da FUNTAC (Fundação de Tecnologia do Estado do Acre).
As sementes de açaí, jarina, paxiúba e outras espécies florestais de valor ecológico e econômico agora ganham novas formas e destinos, passando a integrar um banco comunitário que abastecerá feiras, artesãos e lojistas dentro e fora do Acre. A partir de 27 de maio, o grupo iniciou oficialmente o atendimento de pedidos comerciais e se prepara para conquistar espaço em eventos nacionais de sociobiodiversidade, como a Feira Ecoflores 2025, que acontecerá em junho.
Vozes que florescem com a floresta
Para Elayne Camilo de Souza, diretora geral da Associação Mulheres da Terra, o projeto é, acima de tudo, uma reparação histórica:
“Sou filha e neta de produtores rurais. Cresci vendo mulheres fortes, que plantavam, colhiam, cuidavam dos filhos, da casa, dos animais — mas que quase nunca eram ouvidas ou reconhecidas. Hoje, por meio da associação, tenho a oportunidade de transformar essa realidade e de honrar cada uma dessas histórias com ação, com voz e com organização.”
A fala de Elayne resume o espírito do projeto, que já beneficia diretamente mais de 30 famílias, promovendo não apenas geração de renda, mas também autonomia, inclusão produtiva e valorização da cultura amazônica.
“A agricultura não é só economia — é também afeto, cuidado com a vida e compromisso com o futuro. As mulheres que antes ficavam à margem hoje estão liderando, empreendendo, ensinando, inovando.”
Um modelo de bioeconomia sustentável
O projeto “Mãos que Acolhem” contribui com pelo menos cinco Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como igualdade de gênero, trabalho decente, consumo responsável, ação climática e vida terrestre. Para Elayne, cada banco de sementes, biojoia ou feira representa mais do que um produto:
“Carregam cultura, floresta, história e dignidade. Somos mulheres da floresta, do campo, das águas. E a terra nos reconhece. Agora é tempo de o mundo reconhecer também.”
Parcerias que fazem a diferença
A iniciativa só foi possível graças à união de esforços com diversos parceiros:
- Gabinete do Deputado Estadual Pedro Longo: viabilizou recursos via emenda parlamentar;
- Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Manoel Urbano: apoio logístico e articulação com comunidades;
- Cooperativa CooperPurus: apoio no escoamento da produção;
- FUNTAC: ofereceu capacitação técnica e oficinas de boas práticas.
O projeto “Mãos que Acolhem” é um exemplo vivo de como o Acre pode aliar sustentabilidade, empreendedorismo feminino e valorização da biodiversidade para construir um futuro mais justo e verde.