Plano Safra 2025/2026. Estava escrito em cada porteira, em cada ramal, em cada tanque de piscicultura espalhado pelo país que o ciclo deste biênio seria polêmico. Desde o fim do ano passado, com as discussões sobre Seguro Rural se intensificando em todos os fóruns de debates, o ambiente político foi se envenenando. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se articulou no Congresso, apresentou um documento com as demandas que considera estratégicas para o setor. A “Bíblia do Agro” ficou à disposição dos congressistas para o debate. Se havia uma guerra posta, a CNA apresentou a arma.
O tempo contava não só contra o Governo Federal. O tensionamento entre os parlamentares da base de apoio e a oposição não encontrava o mínimo de consenso, mesmo nas questões mais técnicas. Chegou-se, inclusive, a cogitar a possibilidade de que o Plano Safra 2025/2026 nem seria lançado. Mas, no início da semana passada, eis que o presidente Lula apresenta o “dito cujo”, em duas etapas.
Qual é a grande crítica que se faz ao ciclo apresentado por este governo? A principal crítica é, falando de uma forma bem simples: o governo não entrega o que anuncia. Para a Agricultura Familiar, por exemplo, foram R$ 89 bilhões. Nominalmente, é um montante histórico, inclusive 3% superior ao ciclo passado. Da mesma forma, o montante para a Agricultura Empresarial: R$ 516,2 bilhões. Um novo recorde nominal. Inclusive, 1,5% superior ao Plano Safra 2024/2025.
Mas se há tanto dinheiro assim, inclusive superior ao ciclo passado, isso não é bom? A resposta não é tão simples. Como o texto alertou no início, o fator político contribui muito para a rejeição. Isso é um ponto importante, precisa ser admitido com honestidade e não pode ser negligenciado: qualquer que fosse o montante, haveria resistência por parte das representações de classe agrícola. Essa é uma referência.
No entanto, é também honesto falar que o fator político não responde por tudo. Há situações técnicas que depõem contra o Governo. Para a Agricultura Familiar, o volume anunciado para o Pronaf foi de R$ 78,2 bilhões, 3% superior ao da safra passada. Esse é outro ponto de crítica da CNA: o aumento foi menor do que a inflação do período. Ao descontar a inflação acumulada nos últimos 12 meses, 5,32%, o volume é menor do que o do ano anterior. A CNA havia demandado um volume de R$ 103 bilhões para a Agricultura Familiar, um aumento de 31%, em relação ao volume anunciado no ano passado. Além disso, o volume efetivamente contratado nas últimas safras tem ficado aquém do anunciado.
Prova é de que o cenário está contaminado pelo ambiente político partidário: o programa Voz da Contag (Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura), uma tradicional instância de apoio do atual governo, em 9min16seg, só tece elogios ao plano. Não há um ponto crítico. O tom é de entusiasmo.
Na Agricultura Empresarial, o grau de tensão aumenta, sobretudo porque o Seguro Rural foi algo desvalorizado pelo atual Governo. A CNA pleiteou R$ 4 bilhões e o governo acena com R$ 1,06 bilhão e ainda contigencia R$ 445,16 milhões. É quase uma provocação.
Um trecho de um material de divulgação da CNA resume bem o “espírito” que sustenta a oposição ao atual Plano Safra 2025/2026: “o Plano Safra 2025/2026, embora anunciado com cifras recordes, revela uma realidade menos promissora quando se analisa seu impacto efetivo. O aumento nominal de recursos não acompanha a escalada dos custos de produção, a alta da taxa Selic nem as demandas urgentes do setor agropecuário — que responde por boa parte do PIB, do emprego e da segurança alimentar do país”.
Se o Plano Safra 2025/2026 foi o “plano possível”, diante do cenário de incertezas provocadas pelo ambiente externo; pelo contexto de cortes e contingenciamento em função dos ajustes fiscais que o Governo Federal precisa fazer, de uma coisa não se tem dúvida: faltou conversar mais. Se o ambiente político permitiria, isso vai ficar para o nível da ficção. O fato que se impôs foi um só: faltou insistir no diálogo em busca de um consenso mínimo. A conferir as consequências nas futuras colheitas do que se tem plantado ultimamente.