Desde as primeiras horas da madrugada, produtores e consumidores se encontram nos corredores do Ceasa de Rio Branco em busca de um item indispensável na mesa acreana: a farinha de mandioca. Seja na forma branca, amarela ou d’água, o produto representa mais do que um acompanhamento alimentar — é cultura, memória e sustento para centenas de famílias que vivem da produção artesanal.
A mandioca, cultivada de forma tradicional por pequenos agricultores em ramais e colônias, passa por um processo artesanal que inclui descascamento, lavagem, ralagem, prensagem e torrefação em fornos a lenha. “É um trabalho pesado, mas feito com carinho. A gente aprende desde pequeno com os pais e avós”, conta Dona Maria das Dores, que há mais de 10 anos vende farinha no Ceasa.
Além da farinha, a raiz se transforma em outros derivados como goma, tapioca e beiju. Todos são comercializados diretamente pelos produtores, o que valoriza a cadeia local, gera renda no campo e assegura ao consumidor produtos frescos, sem aditivos e com sabor genuíno.
Nos últimos anos, o aumento da demanda por alimentos mais naturais e regionais impulsionou o consumo desses produtos, inclusive por parte de empreendedores da gastronomia que utilizam a farinha em pratos típicos ou inovadores.
Segundo a coordenação do Ceasa, o setor da mandioca movimenta milhares de reais por mês, especialmente em períodos de festas, Semana Santa e São João. A variedade disponível reflete o saber popular e a diversidade da agricultura familiar acreana.
Além do valor econômico, a cadeia da mandioca é um importante pilar de segurança alimentar no estado. “Quem tem mandioca plantada nunca passa fome”, resume Seu Raimundo da Silva, produtor do ramal da Transacreana, que entrega sua farinha toda semana no Ceasa.
Enquanto ganha o prato dos acreanos, a farinha artesanal segue resistindo ao tempo, à industrialização e à concorrência externa — firme como a raiz que lhe dá origem.