Álcool Verde: empreendimento fechado e dinheiro público desperdiçado

Com milhões investidos, usina de Capixaba segue desativada, enquanto o Acre perde a oportunidade de gerar emprego e desenvolvimento sustentável.

Luiz Eduardo Souza
A usina do Projeto Álcool Verde em Capixaba permanece desativada, com milhões de reais em recursos públicos investidos e sem perspectivas de retomada. Foto: Reprodução

Entre 2005 e 2007, o Acre viu a transformação da Alcoolbrás em Álcool Verde, um movimento que buscava modernizar a indústria sucroalcooleira do estado e estabelecer a produção de etanol sustentável como um pilar do desenvolvimento local. O projeto, inicialmente promissor, visava à geração de bioenergia e a promoção de práticas ambientais sustentáveis. A usina de Capixaba, que passou a ser administrada pelo Grupo Farias, um dos maiores grupos empresariais do segmento sucroenergético do país, foi revitalizada. Mas, após quase duas décadas, encontra-se temporariamente fechada, em um cenário de inatividade e incertezas.

A mudança de nome e de foco estratégico foi acompanhada pela promessa de inovação no setor de etanol, com a introdução do selo “Álcool Verde”, destinado a atender a padrões internacionais de sustentabilidade. No entanto, a realidade da usina, atualmente abandonada, levanta uma série de questões sobre a gestão do projeto e o destino dos recursos públicos que foram investidos para sua revitalização.

Da Alcoolbrás à Álcool Verde: A Transformação e Seus Desafios

A transformação da Alcoolbrás, uma antiga usina sucroalcooleira, para a Álcool Verde, com proposta de atender ao segmento sucroenergético, foi parte de um esforço para tornar o estado do Acre incluído na produção consolidada com esse perfil de produção de energia limpa, uma realidade no Centro Sul desde o fim dos anos 80.

Com a reestruturação e novos investimentos, o Grupo Farias assumiu o controle da empresa e iniciou um processo de modernização, com o objetivo de não apenas atender ao mercado interno, mas também exportar etanol para países com altos padrões ambientais, como os Estados Unidos. Segundo Waleska Bezerra, presidente da Agência de Negócios do Acre, “a Álcool Verde não faz parte do grupo de empresas coligadas a ANAC, e estamos buscando identificar o que foi feito quando ocorreu a transformação de Alcoolbrás para Álcool Verde. A propriedade é do Grupo Farias e está temporariamente fechada”.

Fechamento Temporário e Consequências para o Estado

O fechamento temporário da Álcool Verde, aliado à falta de transparência sobre o andamento das operações, trouxe à tona as dúvidas sobre a real viabilidade do projeto. O investimento público, que buscava fortalecer a economia local e contribuir para a sustentabilidade, acabou sendo colocado em xeque, especialmente diante da inatividade da usina e das ausências de respostas claras por parte dos responsáveis pela gestão do empreendimento.

Esse cenário levanta a necessidade urgente de uma revisão da gestão pública em relação a projetos de grande porte como o Álcool Verde, com maior transparência e controle dos recursos investidos. A população acreana continua aguardando explicações sobre o futuro do projeto e sobre os impactos do fechamento temporário da usina na geração de emprego e desenvolvimento no estado.

Perspectivas Futuras

Embora o Grupo Farias continue sendo o proprietário da Álcool Verde, o futuro da usina permanece incerto. A empresa ainda não tem uma previsão clara de reabertura, e a falta de ações concretas e de comunicação com a população e autoridades competentes deixa o cenário em aberto. O Acre, que poderia ser um exemplo de produção de etanol verde e sustentável, segue na expectativa de que, no futuro, a usina retome suas atividades e o projeto alcance seu verdadeiro potencial.

A instabilidade do segmento sucroenergético em regiões com capital instalado e consolidado, próximo de grandes mercados consumidores e de portos que viabilizam exportações a um custo mais baixo não permite alimentar esperanças de que a Álcool Verde venha a ser prioridade. O governo, como um dos acionistas do empreendimento, poderia reprogramar, junto com a bancada federal possibilidades de tornar o empreendimento minimamente produtivo.

Com um detalhe: a safra 2024/2025, na região Centro/Sul, registrou queda tanto na produção quanto na produtividade. A moagem na safra 24/25 foi de 621,81 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma queda de 4,98% comparada à safra anterior. A produtividade também caiu. Entre abril de 2024 e março de 2025, foram colhidas 77,8 toneladas de cana-de-açúcar por hectare. Uma redução de 10,7% em relação à safra anterior.

Não foi encontrada nenhuma representação da Álcool Verde no Acre que pudesse falar sobre o assunto. A reportagem se coloca à disposição para quaisquer novas informações a respeito.

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