Mapa formaliza segundo laticínio no “Mais Leite Saudável”

Os 43,3 milhões de litros produzidos ao ano demonstram o tamanho do desafio para o Acre voltar a ser autossustentável

Itaan Arruda
Produtor descapitalizado, sem condições de investir em genética do plantel e no processo de ordenhas e com instalações precárias. Esses fatores somados pressionam pela baixa produção e baixa produtividade. Foto: Agência Brasil

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) formaliza hoje (27) a adesão da segunda indústria de laticínios do Acre ao programa federal Mais Leite Saudável. Trata-se de uma isenção fiscal do Governo Federal para que os laticínios revertam esses benefícios em ganhos ao produtor de leite. A primeira empresa a aderir ao programa foi a Laticínios Buriti e agora a Parlak Laticínios.

“O Governo Federal está isentando os laticínios de pagar o PIS e o Cofins. E isso é vantajoso para o empresário. É uma maneira de o Governo Federal investir nas empresas daqui, fomentando, dessa forma, a economia local”, afirmou o superintendente do Mapa no Acre, Paulo Trindade.

“Para acessar os benefícios fiscais, as empresas participantes devem elaborar e executar projetos que beneficiem produtores de leite. Esses projetos devem investir no mínimo 5% do valor dos créditos fiscais aos quais a empresa tem direito”, explica o Ministério da Agricultura.

Rotina do cenário desafiador_ De acordo com o Fórum Empresarial do Acre, a produção de leite no estado é de aproximadamente 43,3 milhões de litros por ano. É uma das menores produções do país. Fica à frente apenas do Distrito Federal (30,8 mil); Roraima (12,5 mil) e do Amapá (4,6 mil). Os dados do Fórum têm como referência o IBGE.

“A produção de leite precisa ser observada aqui no Acre, sobretudo, pelo seu aspecto social”, orienta o professor da Ufac e coordenador do Grupo de Trabalho de Leite do Fórum empresarial do Acre, Eduardo Mitke.

De acordo com o IBGE, o Acre é o 24° Estado na produção de leite. Só está à frente do Distrito Federal, Roraima e Amapá. Foto: Agência Brasil

O plantel leiteiro acreano é de pouco mais de 50 mil animais. Algo em torno de 1,25% do efetivo total. Além disso, segundo dados repassados pelo professor Mitke, a produtividade é baixa. Uma média de 765 litros por vaca por ano. Isso resulta em algo em torno de 3,3 litros diários por animal leiteiro.

Os problemas já foram diagnosticados pelos pecuaristas mesmo antes da existência do Fórum: baixo investimento em genética, produtor descapitalizado, baixo investimento em pastagens, instalações de ordenha precárias. É um ciclo perverso que praticamente impede o aumento da produção.

“Essa baixa produtividade mostra, de certa forma, a fragilidade da cadeia produtiva leiteira no Acre”, constatou o professor Mitke. “E isso torna não atrativo para instalação de grandes laticínios, sendo o leite industrializado em pequenos laticínios locais, que, muitas vezes, passam por dificuldades financeiras, o que gera descontinuidade no pagamento da produção ao bovinocultor e a prática de preços baixos”.

Preço_ De acordo com a Coopel, uma das maiores cooperativas do Acre, que absorve a produção de 150 famílias, o preço praticado por litro hoje é de R$ 2 ao produtor na propriedade (quando a cooperativa vai buscar o material “na mata”). Quando o produtor leva o material até o laticínio, paga-se R$ 2,10.

“São três coisas basicamente que prejudicam a cadeia do leite. Os produtores têm vacas velhas; os produtores estão envelhecendo e a mão de obra não está sendo reposta e a assistência técnica que existe, mas precisa ser ampliada”, afirmou o presidente da cooperativa, Ezequiel Rodrigues de Oliveira.

“Este cenário acaba gerando um ciclo vicioso no qual o produtor acreano não investe, devido à fragilidade da cadeia produtiva e a cadeia produtiva não se consolida, por falta de investimentos e tecnologia”, afirma Eduardo Mitke, do Fórum Empresarial.

O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf) informou os números consolidados da produção de leite e de dois tipos de queijo em 2024. Foram exatos 7.084.376 litros de leite pasteurizados. Queijo tipo “mussarela” foram 659.214 Kg. Queijo tipo “coalho” foram 68.268 Kg. Essa produção é a contabilizada nos oito laticínios que passam por inspeção do instituto, incluindo dois na regional do Tarauacá/Envira. São todos números muito modestos. Essa quantidade de leite, por exemplo, não garante nem 9 litros de leite per capita no ano.

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