Depois de encerrar 2024 em clima de otimismo, o setor de lácteos atravessou 2025 em um movimento intenso de correção. O avanço da produção, aliado ao elevado volume de importações e ao enfraquecimento da demanda, derrubou os preços do leite e pressionou as margens tanto no campo quanto na indústria. O resultado foi um mercado que rapidamente deixou a euforia para operar com cautela e agora inicia 2026 em busca de equilíbrio.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o ano começou de forma positiva, mas a partir do segundo trimestre o excesso de oferta passou a pesar sobre as cotações. Na média nacional, o preço do leite pago ao produtor acumulou queda de 3,5% entre janeiro e outubro. A retração se intensificou ao longo do ano, chegando a 11,4% no terceiro trimestre, com projeções de recuo que podem alcançar 19,2% no último trimestre de 2025.
A Scot Consultoria destaca que o comportamento do mercado foi atípico. Em oito dos 11 meses analisados, houve queda mensal na remuneração ao produtor, inclusive durante o período de entressafra, entre maio e agosto, quando tradicionalmente os preços tendem a reagir.
Produção cresce, mas consumo não acompanha
O avanço da produção ajuda a explicar esse cenário. Estimulados pelas margens mais favoráveis no fim de 2024 e início de 2025, muitos produtores ampliaram investimentos, o que elevou o volume de leite ofertado. Além disso, as condições climáticas mais regulares ao longo do ano favoreceram a produtividade.
Segundo projeções do Cepea, a produção brasileira de leite cru deve fechar 2025 em cerca de 37 bilhões de litros, um crescimento de 3,5% em relação a 2024. No mercado formal, a captação industrial atingiu 27,14 bilhões de litros, alta de 7% e recorde histórico. No entanto, a demanda não cresceu no mesmo ritmo. As importações permaneceram elevadas, somando 2,27 bilhões de litros em equivalente leite, enquanto as exportações recuaram 31%, dificultando o escoamento do excedente interno.
Margens apertadas no campo e na indústria
Com preços em queda e custos ainda relevantes, as margens se estreitaram rapidamente. A Scot calcula que a diferença entre o preço do leite pago ao produtor e o índice de custo de produção caiu 10,3 pontos percentuais em comparação com 2024. Já o Cepea aponta perda de poder de compra do pecuarista frente ao milho, com redução de 13,7%, o que limita novos investimentos.
A indústria também enfrentou dificuldades, especialmente no segundo semestre. Segundo o Cepea, os terceiro e quarto trimestres registraram desempenho fraco, com aumento médio de 9% no spread entre os preços do leite cru e dos principais derivados, como UHT e muçarela.
Expectativas moderadas para 2026
Para 2026, a expectativa é de crescimento mais contido. A Scot avalia que a produção não deve avançar no mesmo ritmo, justamente por causa dos preços mais baixos e das margens apertadas. O Cepea projeta aumento entre 2% e 2,5% na oferta de leite cru, em um cenário de PIB próximo de 2% e menor volatilidade nos preços.
A recuperação das cotações deve ocorrer de forma gradual, com tendência de alta sazonal entre abril e agosto, quando a oferta costuma cair, especialmente na região Sul. Até lá, a relação entre oferta e demanda ainda deve manter pressão sobre os preços.
Custos podem aliviar, mas exigem eficiência
Se os preços não animam, os custos podem trazer algum alívio. A maior estabilidade nos grãos pode ajudar a conter novas perdas de margem. Ainda assim, tanto a Scot quanto o Cepea alertam que as margens devem permanecer abaixo das observadas em 2024 e no início de 2025.
Com isso, o setor inicia o novo ano mais seletivo, com foco em gestão, eficiência produtiva e controle de custos. As oportunidades existem, mas exigem planejamento e disciplina em um mercado que segue desafiador.
