O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, declarou preocupação com o anúncio das medidas de salvaguarda do governo chinês em relação ao comércio da carne. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) soltaram nota conjunta demonstrando preocupação com o novo cenário apresentado.
“Estamos sendo surpreendidos com essa notícia de uma imposição de tarifa de extra cota de até 55% sobre a carne exportada pelo Brasil para a China. Nesses tempos de tarifaços, de oligopólios, de concentração do mercado, onde a China compra 48% do total da carne exportada pelo Brasil… isso é sempre preocupante porque qualquer soluço que a China der reflete no mercado, tem impacto negativo e é motivo de preocupação para todos nós”, avalia Veronez.
Para o presidente da Faeac, “o Brasil vinha em um crescente na sua pecuária bovina, aumentando a oferta não faz muito tempo. Nós produzimos dois milhões de toneladas de carne. Hoje, nós produzimos doze milhões, ultrapassando os Estados Unidos. Uma marca histórica. Os Estados Unidos sempre lideraram a exportação de carne bovina. E esse ano nós ultrapassamos os Estados Unidos”, lembrou.
O presidente da Faeac pontua que os investimentos que o segmento da pecuária fez em toda a cadeia pode estar comprometido e apela para a diplomacia como uma solução. “Então, esse desempenho todo da pecuária nacional, não só em número de cabeças, mas especialmente em produtividade, animais mais precoces, todas as transformações que ocorreram em genética, em nutrição animal, proporcionando esse tipo de coisa passa a ser agora motivo de preocupação”.
Para ele, o cenário acreano também sentirá impactos. “Aqui no Acre mesmo nós estamos crescendo a produção, inclusive com essa discussão da pauta, saindo 400 mil animais para outros estados… isso, legalmente! E a gente vê também os frigoríficos locais se preparando, se habilitando para exportar para outros países. Então, qualquer mexida dessa provocada pela China pela sua importância, pelo volume que ela representa é um motivo de apreensão e de uma análise mais profunda, por meio dessa nota da CNA junto com a Abiec, mas, certamente, esse debate vai ser intenso nesses próximos dias porque esse comércio internacional é sempre assim, feito por pressão e os interesses são os mais diversos dos países”.
Para ele, a postura do governo norteamericano com o tarifaço criou uma referência de instabilidade no mercado global. “E depois do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o mercado deu uma mexida grande, mudanças grandes nessas relações bilaterais e multilaterais. Ou seja: vamos para onde caminha isto”.
Confira a nota na íntegra
POSICIONAMENTO ABIEC/CNA • MEDIDAS DE SALVAGUARDA DA CHINA
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entendem que a aplicação das medidas de salvaguarda pela China, no contexto da investigação conduzida sobre as importações de carne bovina, altera as condições de acesso ao seu mercado e impõe uma reorganização dos A os de produção e de exportação. Esses embarques dizem respeito a produtos com valor agregado e perAdistinto do consumo doméstico, associados à geração de emprego e renda no setor. A China permanece como o principal destino da carne bovina brasileira e um importante mercado para o funcionamento da pecuária nacional.
A medida passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2026 e estabelece uma quota crescente nos três primeiros anos, iniciando em 1,106 milhão de toneladas no primeiro ano, com tarifa de 12% para os volumes dentro da quota e sobretaxa de 55% para os volumes excedentes, resultando em tarifa total de 67% fora da quota. Em 2025, as importações chinesas de carne bovina brasileira somaram cerca de 1,7 milhão de toneladas, o equivalente a 48,3% do volume exportado. Nesse cenário, passam a ser necessários ajustes ao longo de toda a cadeia, da produção à exportação, para evitar impactos mais amplos.
As exportações brasileiras para a China são fruto de uma relação comercial construída ao longo de anos, baseada em fornecimento regular, previsibilidade e estrito cumprimento dos requisitos sanitários e técnicos acordados entre os dois países. A carne bovina brasileira, reconhecida por sua qualidade, exerce papel complementar no abastecimento do mercado chinês e contribui para a estabilidade da oferta ao consumidor.
Cabe ressaltar que a cadeia da pecuária bovina tem papel central na economia brasileira, levando renda a milhares de municípios e sustentando cerca de 7 milhões de empregos diretos e indiretos. Aproximadamente 70% da carne bovina produzida no Brasil é destinada ao mercado interno, enquanto cerca de 30% é exportada, evidenciando o caráter complementar das exportações e sua importância para o equilíbrio e o funcionamento da cadeia pecuária nacional.
A ABIEC e a CNA seguirão acompanhando a implementação das medidas, atuando diretamente junto ao Governo Brasileiro e às autoridades chinesas para reduzir os danos que essa sobretaxa causará aos pecuaristas e exportadores brasileiros e para preservar o A o comercial historicamente praticado.
