“Agora todo mundo quer ser o pai do menino”, diz Luís Tchê ao rebater fala de ex-presidente da Anac

Luís Tchê reforça que o crescimento do café no Acre é fruto do produtor e de um conjunto de esforços, não de um único nome.

Luiz Eduardo Souza
Secretário Luís Tchê rebate declarações sobre a origem da cafeicultura no Acre e destaca protagonismo dos produtores.Foto: Luiz Eduardo

O secretário de Agricultura do Acre, Luís Tchê, rebateu com firmeza as declarações do ex-presidente da ANAC, Inácio Moreira, que afirmou em entrevista, na última sexta-feira, 28, ao Agro24cast que o atual entusiasmo do Acre com a cafeicultura só existe graças ao trabalho do ex-governador Tião Viana. Para Tchê, a fala demonstra desconhecimento da história do café no Estado e desconsidera o papel dos produtores e de outras lideranças que impulsionaram a retomada da cultura.

Inácio havia afirmado que “hoje está todo mundo abraçado com o café graças ao Tião Viana” e citou que os primeiros viveiros de mudas teriam sido trazidos na gestão petista. A declaração gerou reação do secretário, que classificou a análise como incompleta e equivocada.

“Ele não tem conhecimento. A história do café no Acre é muito anterior”

Segundo Luís Tchê, atribuir o avanço da cafeicultura a um único ator político distorce a trajetória da cultura no Estado.
“Eu acho que ele não tem conhecimento. Investia-se em café no Acre nos anos 60 e 70. Depois, por causa da queda do preço, muitos arrancaram a cultura. Em 2012 houve nova tentativa, mas com Arábica, que não se adaptou bem. Então não existe esse marco que o Inácio apontou”, afirmou.

Tchê também destacou nomes que tiveram participação direta no ressurgimento do café, especialmente no Vale do Juruá.
“O Jonas Lima, por exemplo, pra mim é um precursor. Incentivou muito. No Juruá ele ajudou a fazer acontecer. E se você ouvir produtores antigos, como o seu Lara em Acrelândia, eles contam que trouxeram muda de café escondida dentro de mala pra conseguir plantar aqui. Isso faz muitos anos”, disse.

Política não pode apagar a contribuição coletiva, afirma secretário

O secretário criticou o que chamou de “disputa por paternidade política” da cultura.
“Querer dar título pra A ou B é problema. Agora todo mundo quer ser o pai do menino. Mas o que temos que fazer é juntar todo mundo. Todo mundo foi importante em algum momento.”

Tchê fez questão de destacar até mesmo o papel recente de Jorge Viana, atualmente na ApexBrasil.
“O Jorge não plantava café lá atrás. Hoje está plantando. Mudou a concepção. E na Apex ele faz um trabalho importante de divulgação, é verdade. Mas ele só está propagando o café do Acre porque houve um governo — o nosso — que incentivou o produtor a produzir.”

Governo Gladson e a consolidação da cadeia

Ao rebater o argumento de que a retomada teria sido obra exclusiva de governos passados, Tchê lembrou que foi somente a partir de 2019 que o Acre passou a plantar soja e que a agricultura moderna ganhou escala.
“Até 2019 não se plantava soja no Acre. Depois disso a cadeia andou. E não fomos nós que desmatamos pra isso — continuamos com 84% de floresta preservada.”

Ele também citou iniciativas estruturantes da atual gestão, como o programa de análise de solo, incentivo à irrigação e o fortalecimento dos concursos estaduais de qualidade.
“Nós fizemos algo que mudou o jogo: criamos o Concurso do Café do Acre. Estamos no terceiro ano. Eu sempre disse que o concurso era pra mostrar ao Brasil e ao mundo que o Acre produz café de qualidade e preserva. Isso dá história, dá valor, dá narrativa pro produto.”

O protagonismo do produtor

Apesar da resposta dura às declarações de Inácio, o secretário reforçou que o verdadeiro centro da discussão deve ser o produtor rural.
“A chave de tudo é o produtor. É quem precisa ser valorizado. Eu ando mais na casa de produtor do que na secretaria. Eles sobreviveram até hoje na luta da propriedade. Com o café, muitos estão encontrando dignidade e renda.”

Ele citou o caso da Gabriele Tavares, de 24 anos, que teve uma grande reviravolta na sua vida ao se consagrar como produtora do 9º melhor café do Acre, resultado obtido no Qualicafé 2025. Antes de se dedicar integralmente a cafeicultura, Gabriele trabalhava como cuidadora de idosos para ajudar a complementar a renda da família. Com a chegada de uma gravidez, precisou se afastar dessa atividade e, nesse momento, tomou a decisão que mudaria o rumo de sua vida.

“Isso muda vidas. É isso que importa. O resto é disputa política por paternidade.”

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