A aquicultura foi apresentada, nesta semana, na COP30, em Belém (PA), como uma das alternativas mais promissoras para enfrentar os desafios da segurança alimentar e das mudanças climáticas. Durante o painel “Sistemas agroalimentares aquáticos”, promovido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), especialistas destacaram a alta eficiência produtiva do setor e seu potencial regenerativo, especialmente quando comparado a outras cadeias de proteína animal.
Baixa pegada de carbono e alta eficiência produtiva
Felipe Bodens, coordenador-geral de Desenvolvimento da Aquicultura em Águas da União, ressaltou que a aquicultura é, hoje, a cadeia de proteína animal com a menor pegada de carbono. Enquanto a agropecuária tradicional é responsável por 20% a 37% das emissões globais de gases de efeito estufa, a aquicultura respondeu por apenas 0,5% dessas emissões em 2017.
Segundo ele, o setor combina sustentabilidade e alta produtividade, o que o coloca como peça-chave no esforço global para reduzir emissões e ampliar a oferta de alimentos.
Uso de áreas degradadas e novos sistemas produtivos
A professora Patrícia Valenti, do Centro de Aquicultura da Unesp, destacou a possibilidade de utilizar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas na Amazônia para implantar viveiros de criação. A estratégia, além de reduzir a pressão por abertura de novas áreas, recupera paisagens e cria oportunidades econômicas para comunidades rurais.
Valenti também mencionou iniciativas já em andamento no país, como o cultivo de macroalgas na Bahia e a produção de spirulina no interior de São Paulo, voltada para setores como o farmacêutico e o de alimentos funcionais. Essas cadeias, segundo ela, geram renda, têm baixo impacto ambiental e contribuem para metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A força da algicultura
Um dos pontos centrais do debate foi o avanço do cultivo de algas, ostras e mariscos — organismos considerados neutros ou quase neutros em carbono. Além de não demandarem ração industrializada, esses cultivos contribuem para melhorar a qualidade da água, reduzindo processos como eutrofização e acidificação costeira.
A algicultura, em particular, foi apontada como a grande aposta para a bioeconomia global. As algas já são utilizadas em alimentos, cosméticos, suplementos, fármacos e embalagens biodegradáveis. Também surgem como alternativas ao plástico, a compostos derivados de petróleo e a produtos químicos sintéticos.
Chantal Line Carpentier, chefe do departamento de comércio da UNCTAD, reforçou o protagonismo das algas, que representam 30% de todo o volume da aquicultura mundial. Para ela, “as algas não são apenas um recurso, são uma plataforma para a bioeconomia”.
Carpentier também afirmou esperar a adesão do Brasil à Iniciativa Global das Nações Unidas para as Algas Marinhas (UNGSI), que reúne organismos da ONU e países como Madagascar, Indonésia e França para acelerar projetos ligados ao setor.
