O Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre encomendou um Estudo Econômico para tentar entender a dinâmica do preço da arroba em toda cadeia comercial da carne bovina na cidade de Rio Branco. Assinado pelo professor da Ufac Rubicleis Gomes da Silva, o documento tem título auto-explicativo: “Co-interação entre mercados: do pasto ao prato, como os preços da arroba chegam à mesa do acreano”.
O período analisado é extenso: vai de julho de 2023 a setembro de 2025. Contou com o apoio do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Economia da Ufac (PET/Economia).
A pergunta que motivou o pesquisador foi: “como funciona a transmissão de preços entre o mercado atacadista (arroba do boi gordo) e o varejo (supermercados e açougues)? Qual é o grau de integração entre esses mercados?”
A tendência geral no período analisado foi de alta nos preços da carne com crescimento médio mensal de 0,43% e acumulado de 5,32% em 12 meses. O estudo constatou que os açougues têm “comportamento mais inflacionário”
“Contudo, não podemos negligenciar que os preços nos açougues ainda são 32% inferiores aos supermercados, o que observamos é que os supermercados buscam maior competitividade ao reduzirem suas margens”, pontua o professor Rubicleis Gomes da Silva, autor do estudo.
Os supermercados têm maior poder de barganha e utilizam a carne bovina como um produto para atrair o consumidor. Com um detalhe: “enquanto açougues repassam mais diretamente os aumentos de custos devido às margens apertadas, supermercados utilizam a carne como produto âncora, absorvendo aumentos através de subsídios cruzados com outros produtos”.
Falando de forma mais clara ainda: os açougues são pequenos comparados aos supermercados. Se a arroba aumenta, o impacto no balcão é mais rápido. Nos supermercados, além de comprarem dos fornecedores em maior volume, há outros produtos em que pode haver compensação da margem de lucro.
Velocidade do aumento do preço da arroba no preço de varejo
O Estudo Econômico calculou a “velocidade” do impacto do aumento no preço da arroba no preço do varejo. Os açougues apresentaram “comportamento inflacionário consistente” no período analisado: crescimento de 6,08% em 12 meses. Os supermercados apresentaram “tendência deflacionária” (-4,02%, em 12 meses).
“A análise de cointegração demonstrou forte integração entre os mercados com elasticidade de transmissão de 0,403″, calculou o estudo. Isso significa que cada 1% de aumento no preço da arroba resulta em 0,40% de aumento no varejo. “A velocidade de ajuste de 81% ao mês, evidencia correção rápida de desequilíbrios”, conclui o estudo.
Aumento do preço da carne (variação em 12 meses)
Açougues (*Em 12 meses)
| Corte | Aumento (%) |
|---|---|
| Pá com osso | 9,55% 🔺 |
| Agulha | 9,72% 🔺 |
| Coxão duro | 7,19% 🔺 |
Supermercados (*Em 12 meses)
| Corte | Aumento (%) |
|---|---|
| Picanha | -7,17% 🔻 |
| Coxão duro | -7,98% 🔻 |
| Coxão mole | -5,94% 🔻 |
| Pá sem osso | 1,84% 🔺 |
| Agulha | 0,49% 🔺 |
E como ficam os produtores de carne?
A conclusão do Estudo Econômico é de que “nem todos os aumentos na arroba chegam integralmente ao consumidor final, limitando potenciais ganhos". Os cálculos feitos pelo professor mostram que o aumento no preço da arroba não é integralmente repassado ao varejo. Isso é um cenário já bem conhecido dos pecuaristas.
Esse Estudo Econômico encomendado pelo Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento integra um projeto ambicioso de formar a Matriz Insumo-Produto do Acre integrando todas as cadeias produtivas.

