O município de Jaru, em Rondônia, conhecido por abrigar uma das maiores bacias leiteiras da região Norte, foi o foco de um estudo desenvolvido por estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO). A iniciativa, conduzida por alunos e professores do curso de Medicina Veterinária do campus local, buscou analisar as condições de armazenamento e comercialização do leite, além de compreender as dificuldades enfrentadas por pequenos e médios produtores.
Atendimento direto ao produtor
O projeto faz parte de uma ação de extensão voltada ao atendimento gratuito de produtores rurais que não dispõem de assistência técnica regular. Segundo o estudante Gabriel Cordeiro, um dos integrantes da pesquisa, o trabalho surgiu da necessidade de compreender a realidade da produção leiteira no campo e propor melhorias práticas.
“A gente vai até os produtores que não têm acompanhamento técnico e faz esse atendimento. Nosso objetivo foi levantar como está sendo feito o armazenamento e a comercialização do leite na região de Jaru, entendendo onde estão as principais falhas”, explicou Gabriel.
Produção em alta, mas com desafios de qualidade
Realizado em 2023, o levantamento abrangeu 103 propriedades rurais e revelou que, embora a produção leiteira seja economicamente relevante e essencial para a subsistência de muitas famílias, a qualidade do produto ainda é um desafio.
Os dados mostram que 46% dos produtores utilizam tanques individuais de armazenamento, enquanto 24% ainda não possuem estrutura adequada. Mais da metade dos entrevistados deposita o leite em tanques coletivos, o que, segundo o estudante, compromete a qualidade final do produto.
“Seis produtores podem cuidar da higiene e entregar um leite de alta qualidade, mas se quatro não tiverem o mesmo cuidado, o leite de todos é misturado no tanque comunitário e a qualidade cai. No fim, ninguém recebe bonificação pelo produto melhorado”, pontuou Gabriel.
Coleta fora do prazo ideal
Outro ponto levantado pelo estudo diz respeito à frequência da coleta do leite. Pela legislação, o intervalo máximo permitido é de 48 horas, mas a pesquisa revelou que há propriedades onde o recolhimento ocorre a cada três ou até cinco dias, o que prejudica a conservação.
Atualmente, 52 produtores têm coleta a cada dois dias, enquanto apenas 36 recebem o recolhimento diário — o ideal para manter a qualidade.
Falta de políticas públicas e assistência técnica
De acordo com os estudantes, o principal entrave enfrentado pelos produtores está na ausência de infraestrutura, capacitação técnica e acesso a crédito rural. Muitos agricultores atuam em áreas remotas, com difícil acesso à cidade e a profissionais especializados.
“Grande parte dos produtores quer melhorar a qualidade, mas não tem como fazer isso sozinho. Falta investimento, assistência técnica e políticas públicas que fortaleçam essa produção”, destacou o estudante.
Contribuição acadêmica e social
O projeto desenvolvido pelo IFRO tem garantido apoio técnico a famílias que dependem exclusivamente da pecuária leiteira como fonte de renda. Com orientação de professores, os estudantes levam conhecimento prático ao campo e ajudam os produtores a aprimorar o manejo, o armazenamento e o controle sanitário do leite.
“Nosso trabalho mostra que a produção é grande, mas ainda há um gargalo na qualidade. E sem o apoio do poder público, os produtores continuam vulneráveis”, concluiu Gabriel.


 
                                
                              
		 
		 
		 
		 
		
 
		