Da carne para o “kêbe” de arroz é um pulo

Missão brasileira liderada por Lula e articulada pela ApexBrasil abre novos mercados na Ásia e reforça o papel da diplomacia no avanço do agronegócio.

Redação
Lula e Jorge Viana lideram missão empresarial que busca ampliar exportações brasileiras de carne e café para mercados asiáticos.

“Malásia retoma compras de frango do Brasil e abre seis mercados para produtos brasileiros”; “Por carne e café, Brasil pode ceder na importação de etanol dos EUA”; “Presidentes vão discutir tarifaço à margem da cúpula da Asean”. Respectivamente, foram manchetes dos jornais O Estado de S. Paulo, Valor Econômico e O Globo. Três insuspeitas publicações quanto à qualidade e credibilidade. Nenhuma das três podem ser acusadas de serem petistas, lulistas, esquerdistas.

O opositor de Lula (mesmo o mais moderado) jamais imaginaria que, em meio a tanta turbulência no atual cenário econômico e geopolítico mundial, o governo brasileiro fosse ter capacidade de contornar entraves com desenvoltura, diálogo e diplomacia.

A participação do presidente brasileiro no 47º encontro de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) é plena de interesses. Econômicos e políticos. E isso está longe de tirar o mérito do que se construiu até aqui.

E sobre os interesses econômicos há muita coisa em jogo. A Malásia é uma referência em tecnologia em toda a Ásia. Só por isso já se deve ter dimensão do que representa estar na agenda de um país desses. Entre 2019 e 2024, as trocas bilaterais entre Brasil e Malásia somaram US$ 2,7 bilhões. Dado o gigantismo dos dois países, é possível melhorar em quantidade e diversidade a pauta comercial. Por isso, Lula está ali. E junto com ele mais 30 empresários brasileiros dos mais diversos segmentos, sobretudo do agronegócio.

As maiores entidades comerciais do agronegócio integram a missão brasileira. Para alguns, não é a capacidade de soluções de problemas de ordem política que levam Lula aos principais comércios asiáticos. É a força do agronegócio brasileiro que se impõe. É uma forma de ver. Pode ser correta, mas certamente não é justa.

A Indonésia foi outro ponto de destaque. O país está com estabilidade econômica, com crescimento de 5% ao ano e inflação sob controle. Com um detalhe: um mercado consumidor de mais de 300 milhões de pessoas. Importam quase toda carne que consomem. Para o agro brasileiro, são situações que fazem as ruas de Jacarta e Kuala Lumpur cheirar a dinheiro para os empresários do setor.

E, como se não bastasse a maré de boas notícias na arena dos negócios, o Ministério da Agricultura recebe a informação de que a União Europeia retomou o pré-listing para o comércio da carne de frango. O que isso significa? Significa que os países que fazem parte do grupo aceitam que o próprio governo brasileiro aponte quais os frigoríficos estão aptos a exportar carne de frango para lá. Não será mais necessário que venham missões de inspeção sanitária avaliar cada frigorífico daqui. Isso só é possível com a existência de um sistema sanitário robusto, ágil e eficaz.

Esse cenário todo é exclusividade das ações do Governo Federal? Óbvio que não. Sem a participação do setor privado, isso jamais seria possível. Sem a capacidade de investimento da indústria, isso jamais seria possível. Mas é preciso reconhecer, embora, politicamente, isso fira de morte alguns leitores, que nada disso seria possível sem as ações do Governo Federal. Nada disso seria possível sem a política da “diplomacia presidencial”, retomada com força por Lula, com todos os prós e contras que o instrumento gera.

E o instrumento que Lula tem para fazer a costura entre a diplomacia e os negócios é a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O presidente da agência, o acreano Jorge Viana, é talhado para a política. Mas aprendeu a negociar como poucos. Transita entre os grandes do agronegócio brasileiro e tem ajudado a indústria acreana da forma como é possível. Ter dois representantes do Acre entre os empresários brasileiros na missão à Ásia é uma costura com digital de Jorge Viana. Fôssemos depender dos números acreanos para estar em um grupo tão seleto, dificilmente o Acre estaria representado ali na Ásia.

A concepção de que o Norte e o Nordeste precisam ter maior participação nas exportações brasileiras é algo estranho às elites do Sul e Sudeste. Mas aos poucos o jeito de ser do Acre vai se impondo. E se na próxima missão abrirem espaço para degustar a carne produzida por aqui… aí lascou! Daí para o “kêbe” de arroz vai ser um pulo.

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