A mandioca, base da alimentação amazônica e símbolo da agricultura familiar no Acre, enfrenta um processo de retração preocupante. Em uma década, a produção estadual caiu de 939 mil toneladas em 2013 para 496 mil em 2023, o que representa redução de 47%, conforme dados reunidos pelo professor aposentado de economia da Universidade Federal do Acre (UFAC) Orlando Sabino.
Mesmo com a queda expressiva, a cultura ainda ocupa o primeiro lugar entre as lavouras do estado, somando R$ 243,5 milhões em valor de produção em 2023 — o equivalente a 33% de todo o Valor Bruto da Produção (VBP) das lavouras acreanas. Há dez anos, a mandioca respondia por dois terços desse total (66%).
“A mandioca continua sendo o sustentáculo da agricultura familiar no Acre, mas os números mostram que sua base produtiva está se enfraquecendo”, destaca Sabino.
Produção concentrada e mecanização limitada
A mandioca é cultivada principalmente por pequenos produtores, que têm na farinha uma importante fonte de renda. Municípios como Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Feijó concentram grande parte da produção. No entanto, fatores como falta de mecanização, custo elevado da mão de obra e dificuldade de acesso a mercados têm contribuído para a redução das áreas plantadas.
Apesar do recuo na quantidade produzida, a produtividade média da mandioca acreana é uma das mais altas do país — a terceira maior, atrás apenas de Paraná e São Paulo. Para o pesquisador, isso indica que há conhecimento técnico acumulado, mas ainda falta apoio para ampliar escala e competitividade.
Novas lavouras avançam sobre áreas tradicionais
Enquanto a mandioca perde espaço, outras culturas ganham protagonismo. O café, a soja e o milho vêm crescendo de forma acelerada e atraindo investimentos, especialmente no Vale do Juruá e em áreas próximas a Rio Branco. Esse movimento, segundo Sabino, reflete o avanço da agricultura empresarial e a reconfiguração do espaço rural acreano.
“O que observamos é a substituição de culturas tradicionais por lavouras mais capitalizadas. A mandioca ainda é essencial, mas está perdendo o protagonismo que teve por décadas”, analisa o professor.
Um desafio para a política agrícola
Para especialistas, o cenário reforça a necessidade de políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar, com incentivo à mecanização leve, crédito rural acessível e apoio técnico à produção de farinha. “Sem isso, a mandioca pode deixar de ser um símbolo da economia familiar acreana”, alerta Sabino em seu estudo.