No Seringal São Bernardo, escola não tem energia elétrica

Estudantes enfrentam longas caminhadas e falta de infraestrutura em escola isolada da Transacreana, que integra as 209 unidades sem energia no Acre.

Itaan Arruda
Escola Francisco Carneiro de Lima, no Seringal São Bernardo, é uma das 209 unidades de ensino do Acre ainda sem energia elétrica.

Na Escola Estadual Francisco Carneiro de Lima, localizada no Seringal São Bernardo, na região da Transacreana, não há energia elétrica. A jovem Rebeca dos Santos, na oitava série, anda duas horas diárias para estar ali e pelejar pelo sonho de ser Médica Veterinária.

A escola está longe de ser das piores. O espaço da sala de aula é específico para a atividade de Ensino. Há merendeira. E, pelas imagens feitas pelo Sindicato dos Extrativistas e Assemelhados, o mobiliário não é velho.

Mas não ter energia elétrica já expõe o grau de exclusão a que a comunidade do Seringal São Bernardo está submetida. A Escola Estadual Francisco Carneiro de Lima é uma das 3,4 mil do país sem energia elétrica.

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (com dados de 2022) a Escola Francisco Carneiro de Lima está nos 35,3% de unidades de ensino nestas condições no Acre. Se não tem energia, não tem internet. Mas a exclusão não reside apenas nisso. Não há Agente de Saúde na comunidade. É um ciclo.

“Eu já vi… já”, disse a jovem estudante Rebeca dos Santos, referindo-se à temida onça. É uma rotina até natural para quem anda quatro horas diárias para estudar. O professor confirma que o animal já rondou até a frente da escola.

Os episódios de flagrantes de animais silvestres não podem ser contabilizados na fatura do Governo do Acre. Isso é próprio de quem vive em um seringal. Uma jovem que mora em um seringal caminhar quatro horas diárias para estudar é responsabilidade do Estado? De que forma o estado pode ser responsável por isto?

Quais critérios para construção de uma escola em uma região de floresta? Em 2006, foi criado um programa em que o aluno permanecia na sua própria comunidade e o professor (com um preparo específico) ia até o aluno. Ensinava os fundamentos da Gramática da Língua Portuguesa e os principais conceitos da Matemática, utilizando a própria rotina de vida do aluno.

O professor acabava ensinando filhos e pais. A retomada de programas como este é uma alternativa, já que não é possível construir uma escola com toda infraestrutura a cada curva de rio. O nome desse programa era Asas da Florestania.

“Alguma coisa precisa ser feita”, cobra o presidente do Sindicato dos Extrativistas e Assemelhados de Rio Branco (Sinpasa), Josimar Ferreira do Nascimento, o “Josa”. “Aqui na região da Transacreana, indo pra Reserva [Extrativista Chico Mendes], tem duas, três gerações dentro da mesma casa, tudo analfabeto. E os jovens estão tendo filhos muito cedo, casando muito cedo. Isso não é bom”.

O Sinpasa está fortalecendo a agenda nas comunidades rurais e florestais com foco na Educação. O Deracre tem sido parceiro do sindicato para identificar em quais pontos pode haver intervenção da engenharia para melhorar o trânsito dos alunos nessas regiões isoladas.

Nota pública sobre políticas para garantir energia elétrica e internet em escolas rurais e indígenas do Acre

O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, informa que a definição de localização das escolas em áreas rurais e florestais obedece à demanda das comunidades. A abertura de unidades ocorre quando há quantidade mínima de estudantes, geralmente a partir de dez alunos, e em locais que permitam deslocamento a pé. Quando as famílias mudam de localidade e aumentam as distâncias, surge a necessidade do transporte escolar.

Atualmente, 209 escolas estaduais ainda não possuem acesso à energia elétrica. Para enfrentar essa realidade, em conjunto ao Governo Federal, por meio do programa Educação Conectada, executado pela Entidade Administradora da Conectividade de Escolas (EACE), serão realizados o atendimento de 72 anexos de escolas estaduais até dezembro de 2025.

No campo da conectividade, o Acre alcançou 100% das escolas urbanas conectadas à internet. Atualmente, 32% das escolas já dispõem do serviço, e a previsão é de que, até o final de 2025, 70% de todas as escolas da rede estadual contem com internet instalada, resultado de esforços conjuntos do Estado e da União.

Em paralelo, a educação do Acre estruturou processo próprio de aquisição de kits de energia solar off-grid, com instalação e manutenção, cuja contratação está prevista para o primeiro semestre de 2026. A medida busca garantir autonomia energética às escolas que não forem contempladas pelo programa federal.

É importante destacar que a realidade amazônica apresenta especificidades únicas. O trajeto de duas ou três horas até a escola, muitas vezes, não é medido apenas em quilômetros, mas em enormes dificuldades logísticas. Ao mesmo tempo, a ausência de estradas e as dificuldades de deslocamento refletem não só limitações logísticas, mas também a preservação ambiental. O grande desafio é equilibrar o direito à educação com a conservação da floresta, por meio de soluções sustentáveis, como o transporte escolar fluvial, a energia solar e a adoção de escolas-polo.

O governo do Acre reafirma seu compromisso em assegurar o direito à educação, reduzir desigualdades, garantir infraestrutura adequada e defender o direito à educação à todos, mesmo nas comunidades de difícil acesso, onde infraestrutura e os custos logístico, conhecidos como “custo Amazônia”, representam desafios adicionais.

Aberson Carvalho de Sousa
Secretário de Estado de Educação e Cultura do Acre

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