Depois de pagar mais de R$ 2 milhões por 3 mil toneladas de calcário destinado, em tese, à cafeicultura de produtores familiares, a Secretaria Municipal de Agropecuária (Seagro) agora apenas assiste ao triste fim do investimento: o insumo não trouxe nenhum benefício, está causando cegueira em agricultores e pode contaminar o lençol freático.
A denúncia, que será encaminhada ao Ministério Público, é do presidente do Sindicato dos Extrativistas e Trabalhadores e Assemelhados (Sinpasa), Josimar Ferreira. A reportagem foi aos polos de assentamentos Wilson Pinheiro e Dom Joaquim, no quilômetro 17 da na Estrada Transacrena, e comprovou as denúncias. “Temos muitos problemas, mas os principais são a falta de água e de acesso”, declarou o sindicalista, que ainda acrescentou: “aqui poderia haver muita produção”.
A agricultora Francineide Pontes da Silva foi uma das vítimas dos gestores. “Na primeira vez, fizeram as coisas corretas, ou seja, eles limparam a terra, fizeram a aradagem e a gradagem e, com uma máquina, lançaram o calcário. O resultado foi bom. Agora passaram a máquina apenas uma vez e deixaram o calcário aí para a gente se virar. O meu marido fez o uso com um balde e, por seis meses, ficou cego”, revelou ela, afirmando que não houve colheita.
“O uso inadequado do calcário também pode causar problemas respiratórios e afetar a saúde do solo. É preciso seguir as recomendações técnicas e utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para garantir a segurança no trabalho e a saúde do solo”, comentou Ferreira, para quem os gestores da prefeitura são mentirosos, irresponsáveis e criminosos. “Além do dinheiro jogado fora, o calcário causou esses problemas de saúde e ainda pode contaminar o lençol freático”.
Outros problemas
Apesar de estar nos arredores da capital, à exceção da educação, as demais políticas públicas são inexistentes na comunidade. “Esse convênio entre a prefeitura e o Deracre, para recuperar o ramal, é uma tragédia. Eles fizeram um péssimo serviço de tapa buraco e ainda reduziram a largura do ramal” reclamou a presidente da Associação dos Produtores Rurais do Polo Wilson Pinheiro, Celex Sandra Camatio Barreto de Andrade.
Segundo ela, um cadeirante deixou de fazer fisioterapia porque o local onde ele mora o acesso é ruim, principalmente no período das chuvas. “Isso é revoltante”, desabafou a líder comunitária, apontando uma área da associação onde poderia haver pistas para caminhadas, academias para a terceira idade, campos e quadras de futebol, parque infantil, dentre ou espaços para a prática do esporte, do lazer e da cultura.
Nas proximidades dos polos, no Ramal da Pitanga, encontramos os escombros de uma ponte. Ela teria sido construída pelos próprios moradores, porém não aguentou o peso de um caminhão carregado de sal. “Isso aqui é a realidade do pequeno agricultor de Rio Branco. Quando chegar o inverno, os moradores irão ficar isolados e as crianças não poderão ir à escola”, criticou Josimar Ferreira.
Pelo Watssap, a reportagem fez contado com as assessorias de imprensa da Seagro e do Deracre, mas até o fechamento dessa edição não tivemos retorno.
Nota – Ramal do Polo Wilson Pinheiro
O governo do Acre, por meio do Deracre, informa que a manutenção realizada no ramal do Polo Wilson Pinheiro, km 17 da rodovia AC-90, foi executada conforme termo de cooperação técnica com a Prefeitura de Rio Branco e o apoio do TCE.
O Deracre forneceu mão de obra e máquinas, enquanto a prefeitura cedeu a massa asfáltica para recuperação da via, que incluiu reparos, limpeza, impermeabilização e sinalização.
Não houve redução da largura do ramal. Intervenções fora do acordo são de responsabilidade da prefeitura.
Sula Ximenes
Presidente do Deracre