Já faz algum tempo que venho percebendo uma grata surpresa nas gôndolas dos supermercados: a presença crescente de produtos acreanos. Diante desta observação, gostaria de compartilhar algumas reflexões acerca do desenvolvimento da incipiente indústria local.
Certamente, consumidores mais atentos já notaram o aumento da variedade de produtos produzidos aqui mesmo no Acre e disponíveis nos comércios locais. São itens de diversos segmentos, como: refrigerantes, cafés, biscoitos, carnes processadas e muitos outros.
Dois fatos, em especial, têm me chamado bastante atenção. O primeiro é a quantidade de produtos fabricados no nosso estado, e o segundo é a qualidade percebida em muitos deles. Hoje, quero conversar com você, leitor, sobre esse aspecto da qualidade.
Antes de seguir, é importante destacar que não conheço pessoalmente os proprietários das marcas ou produtos que mencionarei neste artigo. Assim, sinto-me à vontade para emitir opiniões com a isenção de quem fala tanto como consumidor quanto como pesquisador na área de Economia.
Entre os cafés disponíveis no Acre, algumas marcas me surpreenderam positivamente. Os cafés Contri e Sarah, por exemplo, se destacam pelo visual sofisticado de suas embalagens, à altura das principais marcas nacionais. Preciso ressaltar, no entanto, o Café Contri Gourmet: tive uma experiência sensorial incrível ao provar esse café de alto padrão, com paladar doce e notas trufadas. Não fica devendo nada aos cafés gourmet de outras regiões do país — um verdadeiro ponto alto para a indústria acreana.
Ainda no universo dos cafés, preciso mencionar a marca Vovó Pureza. Recentemente adquiri um cappuccino dessa marca e tive uma dupla satisfação: o produto surpreendeu pela qualidade e sabor, além de descobrir, ao olhar o rótulo, que é fabricado no distrito industrial, vizinho ao meu local de trabalho.
Falar da Miragina é um resgate afetivo: remete à infância, ao café com bolacha em um copo. Mais do que reminiscências, a empresa merece destaque pelo seu constante processo de inovação. Costumo presentear quem visita o Acre com os belos e deliciosos biscoitos de castanha da Miragina, um produto premium disponível em nossos supermercados. E não é só isso: a castanhas laminadas, tanto da Miragina quanto da Cooperacre, são de qualidade internacional, capazes de conquistar consumidores em qualquer parte do mundo. É motivo de orgulho para todos nós.
A indústria acreana também brilha no setor de refrigerantes. Destaco aqui a Bebidas Quinari, especialmente pelas versões Kina Power Zero e Quinari Zero, que, no meu paladar, estão em outro patamar de qualidade. Em tempos de alta nos preços, consumir produtos locais faz sentido econômico e social: valoriza quem gera empregos aqui, ao invés de privilegiar marcas importadas que não contribuem para a nossa economia. Além disso, em um momento de tarifaço, poderíamos consumir mais produtos locais e menos importados dos Estados Unidos: valorize quem gera emprego e não quem tira seus empregos.
Os supermercados do Acre parecem, enfim, confirmar o que sempre ensino em aulas de microeconomia: a farofa agrega valor ao produto primário, muito além da simples farinha. Já encontramos excelentes opções de farofa regional nas prateleiras. Há espaço para aprimorar ainda mais, mas percebe-se a implantação contínua de inovação.
É claro que nem tudo são flores. Produtos como tucupi, goma de mandioca, mandioca fresca, entre outros, precisam investir mais em inovação e tecnologia. Qualidade é fundamental, mas é preciso também proporcionar ao consumidor uma experiência completa, que começa pelo apelo visual e segue até o paladar.
Para encerrar, é animador notar o avanço da indústria acreana em diferentes segmentos, impulsionado pela criatividade, inovação e pelo desejo de conquistar o consumidor local. Fomentar a cultura do consumo de produtos regionais é, acima de tudo, investir na nossa economia, em empregos e na autoestima do nosso povo. Que esse movimento siga evoluindo e inspirando ainda mais produtores a inovar e crescer. Estes empresários precisam de políticas públicas de desenvolvimento industrial que os apoiem a continuar inovando.
Por Rubicleis G. Silva
Doutor em Economia UFV – pós-doutorado FGV,
Professor de Economia da UFAC e Tutor do PET-Economia