Por que o preço da carne não baixa no balcão do açougue?

A carne, como commodity, exige que se faça uma divisão clara de dois momentos da cadeia de comercialização: o primeiro momento entre o preço da carne praticado na relação pecuarista/frigorífico/mercado externo e o segundo momento na relação frigorífico/açougue/consumidor

Itaan Arruda
Mesmo com arroba mais barata ao produtor, preço no balcão do açougue segue elevado para o consumidor acreano.

“Por que o preço da carne não baixa para nós, se lemos o tempo inteiro que os pecuaristas reclamam que o preço da arroba está baixo?” A pergunta é frequente. De fato, não é uma explicação simples. Para entender isso, definitivamente, é necessário priorizar a “comunicação”, mesmo que isso possa comprometer o rigor técnico da cadeia de comercialização da carne bovina.

Primeiro: é necessário que se faça uma divisão clara. Há dois instantes. Há dois momentos no ciclo de comercialização da carne bovina. Os dois têm interesses distintos, embora um interfira no outro; um influencie o outro.

O primeiro momento é o que observa a carne como uma commodity (um produto com nível de beneficiamento geralmente baixo, produzido em grande escala e voltado para o mercado externo).

Quando a carne é produzida com esse foco, o consumidor do país onde ela é produzida é um detalhe quase ignorado. A carne é feita para atender o grau de exigência de um determinado cliente, que exige um padrão determinado. É necessário cumprir contratos milionários; há prazos a obedecer e padrão de qualidade a atender. Esse é o primeiro momento da cadeia de comercialização: a carne como um produto de interesse em escala global e produzida para atender o mercado externo. A relação, nesse instante, existe entre os pecuaristas, os frigoríficos e os clientes externos.

O segundo instante é o mais simples de compreender. É aquele que todos cresceram observando: o gado produzido nas fazendas da região, abatidos nos frigoríficos da cidade e vendidos nos açougues. Esse segundo momento não tem muita complexidade.

Nestes dois instantes, a famosa “Lei da Oferta e da Procura” é a grande referência: se muita gente está querendo comprar um determinado produto, a tendência do preço é elevar-se. O produtor, vendo que o consumidor está interessado naquele produto aumenta a oferta daquele produto. Com esse aumento na oferta do produto, a tendência do preço é de queda.

A carne que iria para os Estados Unidos vai aumentar a oferta do produto aqui no Brasil e, com isso, pressionar os preços para baixo? Não é uma resposta tão simples. Primeiro é preciso lembrar que o esforço do governo brasileiro é encontrar mercados alternativos. Nesta sexta-feira (15), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já disse que é possível que carne, café e pescado podem sair do tarifaço norte-americano.

Isso indica que o mercado fica em compasso de espera. Na prática, não é possível assegurar que haverá aumento da oferta no mercado interno. Os exportadores entendem que isso poderia causar uma espécie de desequilíbrio interno na cadeia de comercialização e, naturalmente, derrubaria a rentabilidade. Aliás, o mercado norte-americano é conhecido pela alta rentabilidade aos exportadores.

Os empresários alegam que a suspensão das exportações pode trazer desarranjo do tipo: diminui o preço durante um curto período, mas, no momento seguinte, pode ser que falta oferta de boi para ser abatido.

Se o cenário não é estimulante para o consumidor, o período não é muito promissor também para o produtor de carne. O contexto é de incerteza. E incerteza, em negócios, não é bom para ninguém. 

Ciclo pecuário e mercado externo pressionam comércio regional

O ciclo pecuário, a oscilação de preços em função da maior ou menor oferta de gado, é outro fator que pressiona preço no balcão do açougue. Somado às consequências do cenário de comercialização externa, isso pode fazer com que o preço não estimule o consumidor.

O Acre é um dos estados com o menor preço da arroba praticado no mercado brasileiro. Essa afirmação não guarda relação direta com o consumidor. é uma afirmação que diz respeito à relação entre quem produz carne (pecuarista) e quem processa e beneficia a carne (frigoríficos).

O preço da arroba tem se mantido estável, mas com o cenário externo alimentando incertezas, a tendência não é das melhores para o produtor. E o consumidor? Fica refém da relação entre oferta e demanda. Embora os frigoríficos do Acre tenham feito investimentos e se preparado para atender mercados externos, a maior parte da carne produzida aqui no Acre é consumida aqui mesmo.

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