Mauro Ribeiro*
A maior parte da população não faz ideia do que seja o “Ciclo Pecuário”. Para quem vive no campo, no entanto, de tempos em tempos é sempre visitado por ele. E o que é este tal de “Ciclo”?
É um fenômeno inerente à atividade pecuária, marcado por períodos de subida e queda de preços. Primeiro, do gado: afetando o bolso do produtor. Depois, da carne: que interessa ao consumidor.
É um fato bem previsível, não passando 5 anos sem que tal gangorra aconteça. O que tem isso a ver com os números da pecuária acreana? Tudo.
Recentemente, um dos melhores pesquisadores da EMBRAPA, o nosso Judson Valentim, fez uma “Análise do Fluxo de Produção, Abate e Comercialização de Bovinos no Acre”, trabalho desenvolvido no Fórum de Desenvolvimento, em que explicita:
- evolução do abate de bovinos no Acre, comparando o que ocorreu entre Janeiro a Julho de 2024 e 2025.
- comercialização e transferência de bovinos vivos (cabeças) do Acre para outros estados no primeiro semestre de 2024 e 2025; e,
- o estoque de bovinos em função dos dois itens anteriores.
Salta aos olhos o expressivo aumento do abate de fêmeas, superando o abate de machos em mais de 20%. É sempre assim: quando cai o preço do boi gordo e dos bezerros, muito mais fêmeas pegam o caminho dos frigoríficos, inclusive matrizes com prenhezes avançadas.
Quando os preços sobem, o movimento é inverso, com retenção e reposição de matrizes, pois o produtor quer recuperar o tempo perdido e produzir bezerros, muitos bezerros e boi gordo. Lá na frente, vai ter maior oferta que demanda e os preços cairão novamente.
Outro fator vai condicionar o aumento do rebanho, tão mais limitado quanto seja reduzida a oferta de pastagens, pelo incipiente aumento da agricultura de maior escala.
Sem a intensificação da atividade, mais e mais áreas de pastos perderão capacidade de suporte nas propriedades. Menos produtores irão sobreviver à ilusão de que o bom é ter muito gado, pastos superlotados, mais de 3 cabeças/ha. etc. A consequência direta é a falta de alimento para o gado no período seco.
Por outro lado, o crescimento do abate em mais de 11%, comparado a 2024, chama atenção para a melhoria dos sistemas de manejo e produção, com mais tecnologia incorporada, comprovada pelo aumento do número de animais mantidos em sistemas intensivos, como o semiconfinamento. Pode ser um caminho.
*Mauro Ribeiro é engenheiro agrônomo, professor da UFAC e produtor rural. Ex-secretário de Estado de Agropecuária (2002-2012)