CNA fala sobre o contexto político que resultou no anúncio da sobretaxa dos EUA

Em nota, a confederação define posição e responsabiliza o atual Governo Federal pelo cenário que justificou a decisão do presidente Donald Trump

Itaan Arruda
Vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros dialogam com representantes do setor da Agricultura e Pecuária para discutir reação à sobretaxa. (Foto: Brenno Carvalho)

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil tomou posição em relação ao cenário que antecedeu o anúncio da sobretaxa de 50% do governo norte-americano em relação aos produtos brasileiros. Sem surpreender, a CNA responsabiliza o atual Governo Federal. Também sobrou alguma crítica ao Congresso Nacional e ao Judiciário.

A CNA classifica como “revanchismo”. E aponta: “A verdade é que o Brasil tem sido governado, direta ou indiretamente, por uma obsessão com o passado”, diz o documento. “Em vez de assumir a liderança de uma agenda pragmática e pacificadora, optou por reabrir feridas políticas, reforçando antagonismos e muitas vezes tratando adversários como inimigos”.

A nota não faz referência direta à tentativa de interferência do governo norte-americano nas instituições brasileiras.

Leia a íntegra do documento:

NOTA

A ECONOMIA BRASILEIRA À MARGEM DE UMA AGENDA POLÍTICA SEQUESTRADA

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) manifesta sua preocupação com o cenário atual em que, enquanto o Brasil real tenta recuperar sua economia, atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, a política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais.

A presença dessa agenda como prioridade, inclusive nas relações internacionais, ficou ainda mais evidente com a carta do presidente Donald Trump, um gesto simbólico, mas que reverberou nas instituições brasileiras e criou um ruído na imagem do país no exterior. O Brasil, que deveria estar consolidando sua posição como fornecedor estratégico de alimentos, energia limpa e minerais críticos, volta às manchetes internacionais não por suas oportunidades, mas por suas “crises políticas pessoais” internas.

A verdade é que o Brasil tem sido governado, direta ou indiretamente, por uma obsessão com o passado. O Congresso Nacional, pressionado por suas bases políticas, perde tempo em disputas e manobras que têm pouco a ver com os interesses econômicos do país. O Judiciário, por seu turno, também tem sido envolvido por um protagonismo institucional que, embora muitas vezes necessário, alimenta uma instabilidade constante.

E o governo atual é muito culpado também. Em vez de assumir a liderança de uma agenda pragmática e pacificadora, optou por reabrir feridas políticas, reforçando antagonismos e muitas vezes tratando adversários como inimigos. Essa escolha tem custo. A confiança empresarial, a previsibilidade regulatória e a estabilidade institucional, pilares de qualquer economia saudável, são minadas quando o próprio governo entra no jogo da revanche.

O setor econômico assiste a tudo com preocupação. O Brasil precisa de foco.

Precisamos de reformas estruturais que destravem o crescimento, de segurança jurídica, de um ambiente político que permita pensar no médio e longo prazo. Nenhum investidor aposta em num país preso em disputas do passado.

É preciso que alguém diga o óbvio: a economia não pode continuar sendo refém de narrativas políticas que alimentam extremos e paralisam decisões. O Brasil precisa voltar a olhar para frente. E isso exige maturidade, de todos os lados.

A política precisa corrigir essa grave crise.

 

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

Brasília, 15 de julho de 2025

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