“Raimundão” recebe proteção de agentes da PF após ameaças de morte

Liderança extrativista e primo de Chico Mendes, Raimundão denuncia ameaças de morte após apoiar operação contra gado ilegal na Resex e pede proteção às autoridades.

Luiz Eduardo Souza

Raimundo Mendes de Barros, conhecido como Raimundão, primo do líder seringueiro Chico Mendes, tem vivido dias de tensão e medo após ser alvo de ameaças de morte em meio à Operação Suçuarana, deflagrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Raimundão completa 80 anos no próximo domingo, dia 15, e recebe escolta de policiais federais. O ac24agro  conversou com o seringueiro em um evento que estava sendo realizado na Uninorte.

Raimundão quer voltar para o local onde mora, mas foi orientado por um dos delegados da Polícia Federal a não retornar agora. Ele é uma das principais lideranças extrativistas da região e tem sido duramente atacado por apoiar ações de fiscalização contra o desmatamento e a pecuária ilegal dentro da reserva. O entendimento das pessoas que criticam o trabalho de Raimundão é de que a operação ocorreu por causa do presidente da Associação dos Produtores e Produtoras Agroextrativistas do Seringal Floresta e Adjacências.

Desde o início da operação, que prevê a retirada de cerca de 400 cabeças de gado mantidas ilegalmente em áreas embargadas da Resex, Raimundão passou a ser alvo de uma campanha de desinformação e de discursos de ódio nas redes sociais e em grupos de mensagens. As ameaças se intensificaram a ponto de sua família relatar medo constante de que a história de Chico Mendes, assassinado em 1988, se repita.

A filha de Raimundão, Raiara Barros, de 21 anos, declarou à imprensa que a família precisou reforçar a segurança e que o pai agora vive sob escolta. “A gente tem medo de que aconteça alguma coisa com ele, assim como aconteceu com o tio Chico. Estamos preocupados, pois a violência e os ataques são reais”, afirmou.

Em uma declaração emocionada, Raimundão desabafou:

“Eu tenho quase 80 anos, vivi muita coisa nessa floresta, lutei ao lado do meu primo Chico pra defender a nossa terra. Nunca pensei que, depois de tudo, eu ainda ia ter que viver com medo de morrer pelas mesmas razões que mataram ele. Eu tô sendo ameaçado por defender a legalidade, por apoiar uma operação que é pra proteger a nossa Reserva. Tô temendo pela minha vida, pela segurança da minha família. Eu não quero virar mais uma vítima desse ciclo de violência. Só peço proteção. Quero poder viver em paz e continuar lutando pelo que é certo, como a gente sempre fez.”

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, repudiou as ameaças e saiu em defesa de Raimundão, classificando os ataques como inaceitáveis. “A história não pode se repetir. Raimundão é símbolo de resistência e de luta pela floresta. Ele merece respeito e proteção”, afirmou a ministra, em nota oficial.

O ICMBio esclareceu que a operação não tem como alvo pequenos produtores ou populações tradicionais, mas sim atividades ilegais que já foram notificadas diversas vezes e, em alguns casos, alvo de decisão judicial. A operação conta com o apoio da Polícia Federal, do Exército, do MPF, do IBAMA, do IDAF e da Polícia Militar.

Diante da escalada de ameaças, entidades ambientalistas, parlamentares e movimentos sociais também manifestaram solidariedade a Raimundão e cobraram das autoridades medidas efetivas de proteção à sua integridade física.

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