“Fomos esquecidos”: mulheres indígenas do Acre denunciam exclusão em evento sobre Amazônia

Durante protesto em Rio Branco, a coordenadora Xiú Shanenawa denunciou a exclusão da Sitoakore de evento internacional sobre a Amazônia e cobrou participação efetiva dos povos indígenas na construção de políticas públicas.

Luiz Eduardo Souza

Uma manifestação pacífica realizada nesta segunda-feira (19) em Rio Branco marcou o protesto da Sitoakore — Organização de Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia — contra a exclusão de sua participação em um evento com lideranças políticas nacionais e internacionais que discutiu repartição de benefícios na Amazônia.

A coordenadora geral da Sitoakore, Xiú Shanenawa, classificou a ausência da organização como um reflexo da falta de escuta real aos povos indígenas da região. “Hoje foi um momento muito importante para todos nós, povos indígenas. O que seria uma participação em peso dos povos, infelizmente, não aconteceu. Só estiveram as mesmas organizações que participam de todos os grandes eventos. Muitas vezes, essas lideranças invisibilizam e até discriminam outras organizações indígenas aqui no Acre.”

Com mais de 20 anos de atuação, a Sitoakore representa mulheres indígenas e comunidades tradicionais do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia. Xiú relatou que a entidade sequer foi convidada para participar das discussões. “Disseram simplesmente que esqueceram da gente. A gente já sofre tanto com discriminação, com barreiras… e ainda assim continuamos resistindo.”

O evento, que contou com apoiadores e financiadores de diversos países, teve como foco a repartição de benefícios e estratégias globais de preservação da floresta. Para Xiú, discutir a Amazônia sem ouvir todos os povos indígenas é uma contradição. “Nós somos 5% da população mundial e somos também 5% responsáveis pela sobrevivência do planeta, pela preservação da natureza e da biodiversidade. Como é que se discute algo tão importante somente com alguns líderes indígenas?”, questionou.

Ao final do ato, Xiú afirmou que o objetivo foi alcançado: chamar atenção para a importância da participação indígena verdadeira e igualitária. “Essa foi uma reivindicação pacífica, e que deu certo. Com o apoio de todos, queremos ser respeitados como uma organização legítima, que representa os povos indígenas da nossa região.”

Ela ainda fez um apelo aos organizadores e financiadores internacionais: “Será que eles sabem se realmente existe uma escuta para todos nós, povos indígenas, de todos os territórios? Essa é a questão.”

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