O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, falou o que pensa a respeito da aplicação da rastreabilidade. Diante da cadeia produtiva que se estabeleceu na Amazônia, com as características geográficas e sociais que foram moldando o pequeno produtor na região, Veronez demonstra um certo ceticismo. Acompanhe a breve entrevista.
“Falta realismo”
Eu acho que uma falta de realismo, de conhecimento do Brasil e especialmente da Amazônia querer implantar a rastreabilidade, na similaridade da Europa (lá cada um tem vinte cabecinhas de gado); ou mesmo de um Uruguai ou de uma Argentina que equivale a um Mato Grosso e achar que é possível, você, na Amazônia, com um rebanho que nós temos aqui, com um rebanho de noventa a cem milhões de cabeças na Amazônia, onde não temos nem regularização fundiária ou regularização ambiental, você implantar um sistema complexo para tentar controlar todo o rebanho da região fazendo uma restrição enorme àquelas que vão ter mais dificuldade para se regularizar, que é o caso justamente dos pequenos produtores.
“Identidade”
Serão eles também que estarão sendo enquadrados nesse sistema onde o bezerro passará a ter uma ‘identidade’, uma ‘carteira de identidade’, cujo objetivo é monitorar toda a vida desse bezerro até o abate.
“Como vamos monitorar isso tudo?”
Só pela situação da Amazônia com seus ramais, com as suas reservas, com gente embrenhadas por essas florestas com rebanho, onde reservas indígenas têm gado; unidades de conservação estão cheias de gado: na Reserva Chico Mendes tem mais de cem mil cabeças… como que nós vamos monitorar isso tudo?
“Repercussão negativa”
Será imposta restrição de comercialização a esses animais? Eu temo que nós tenhamos uma repercussão muito negativa, levando muito produtores a uma dificuldade muito grande ao não poder vender seus animais. Não poder chegar ao ciclo completo que é o abate. Porque na hora do abate, o animal tem que estar com toda a sua vida registrada. Então, vamos ver o que vai acontecer. Já houve uma discussão como essa junto ao Mapa, foi constituído um Grupo de Trabalho que tentou equacionar isso. Será regulamentado brevemente e entrará em operação.
“Não há política pública nenhuma para ajudar”
Problemas não nos faltam. Só essa questão de embargo, questão fundiária, questão ambiental já são problemas para encher caminhão, né? E agora vem mais esse. Ou seja: não há política pública nenhuma para ajudar os produtos da Amazônia. É sempre restrição em cima de restrição. Problema em cima de problema.