O Acre registrou aumento no volume de produção de café em fevereiro de 2025, comparado a fevereiro do ano passado. Foram 4.921 toneladas em 2025, enquanto ano passado, no mesmo período, foram 3.079 toneladas.
Houve também aumento na área plantada: em 2024 o agricultor acreano resolveu plantar café em 1.115 hectares. Em 2025, a área plantada foi um pouco maior: 1.734.
Percebe-se um certo entusiasmo com a cultura do café no Acre. Uma breve rodada de telefonemas para os secretários de Agricultura das cidades do interior e se constata que o café está na agenda pública de praticamente todos.
No Juruá, talvez, seja o caso mais emblemático. Houve diminuição até da área da mandioca para o plantio do café. ABDI, Apex, Seagri, Sebrae: as siglas se misturam em apoio ao agricultor que deseja iniciar a plantação.
Há, de fato, relatos de mudanças significativas na geração de renda entre agricultores que passaram a se dedicar à cultura. Estão plantando café até em uma pequena mancha de antigas áreas degradadas da Reserva Extrativista Chico Mendes. Neste caso específico, um lugar muito especial para a produção de “café especial”. E este café tem encontrado mercados estratégicos. Já exportou (ironias econômicas à parte), para os Estados Unidos e para a China.
É, no entanto, preparar o agricultor de base familiar para as flutuações de um produto classificado como uma commodity, com preço referenciado em bolsas de valores em mercados ricos e que tem variações de preços sensíveis. É possível que essa lua de mel entre o produtor e o preço da saca ainda dure um ano e meio, dependendo muito também dos rigores da Guerra Comercial entre China e Estados Unidos. São fatores de instabilidade.
Mas quando o Vietnã se recuperar das alagações que devastaram plantações inteiras por lá, o impacto será sentido. Não é de hoje que a Ásia é um concorrente forte da produção acreana. O que o ac24agro chama atenção para a participação do agricultor de base familiar do Acre no processo. Ele precisa ter consciência de que o café é um produto rentável, apaixonante, mas instável. É preciso que federações, associações, cooperativas e o Sebrae invistam esforços adicionais na formação do agricultor. É preciso entrar consciente nesse cenário.
O agricultor de base familiar não planta por hobby. Uma coisa é ter plantação de café por uma agenda política. Outra bem diferente é depender dela pra tudo. O agricultor de base familiar não tem cartas para jogar.
A Secretaria de Estado de Agricultura tem engenheiros e técnicos agrícolas que analisam todo o processo. Mas é evidente que a prioridade é dada à produção. O melhor exemplo disto é o caso dos fruticultores de Capixaba. A Seagri estimulou a orientou a produção. E deu certo. Mas a cadeia de comercialização não foi observada na integridade.
E o café? Alguém está raciocinando o cenário quando o Vietnã retomar presença no mercado internacional? Quais instrumentos estão sendo criados agora para dar amparo ao agricultor de base familiar quando o preço da saca começar a ficar amargo?