No Acre, Donald Trump e Xi Jiping que nada! Gladson Cameli e Amarísio é o que importa

Como uma economia fragilizada moldou um cenário comercial dependente do poder público e como isso criou uma falsa ideia de “blindagem”

Itaan Arruda
Enquanto potências disputam o mercado global, produtores no Acre ainda enfrentam falta de estrutura básica.

O Acre assiste admirado ao que o país e o mundo estão vivendo com a guerra comercial entre Estados Unidos e China. É o bônus de ter uma economia estruturada em repasses do Fundo de Participação do Estado, em emendas parlamentares e operações de crédito em bancos de fomento internacionais. É uma calmaria de cemitério.

As preocupações dos empresários e médios produtores agrícolas por aqui transitam em um nível mais elementar. Estão mais à reboque das decisões de outros atores da cena econômica do que calculando cenários a partir de decisões tomadas por grupos daqui.

O próprio Brasil está assim, em boa medida. A disputa entre Estados Unidos e China é um jogo em que o Brasil assiste a ele calado, sem se mexer muito. Não tem a mínima condição de intervir. Se o Brasil opera nessa condição, o Acre, então, é de se imaginar.

A postura protecionista do presidente Donald Trump quase deixou mudo o consenso que se tinha no Brasil a respeito da ideia do “livre mercado” e de uma ordem econômica que o próprio Estados Unidos ajudou a moldar em escala global nos últimos 70 anos. Acadêmicos e empresários defensores do Neoliberalismo Econômico (inclusive aqui do Acre) estão sem argumentos. Creditam a uma postura pessoal os desequilíbrios intrínsecos ao próprio sistema que criaram.

A calmaria de cemitério imposta ao Acre pela fragilidade do cenário econômico regional gera uma falsa tranquilidade. É como se o noticiário na tevê e na web fosse parte de um filme meio complicado de entender; há uma percepção genérica de que alguma coisa vai mal mundo afora. Mas a preocupação própria do acreano é saber quando o governo vai pagar o salário do mês; quando vai anunciar a primeira parcela da antecipação do décimo terceiro salário e quando vai começar a Expoacre.

É como se a ação de Governo do Estado, mantendo o pagamento do salário do funcionalismo em dia e as empresas privadas pagando o salário mínimo, com uma ou outra minguada bonificação, criassem uma espécie de bolha. Mas é uma proteção muito frágil. Porque, dependendo do que aconteça na “briga dos grandes”, as consequências por aqui podem ser fatais. Enquanto isso não acontece, a peleja vai sendo conduzida do jeito de sempre.

O produtor agrícola sem ramal para escoar a produção de macaxeira; o governo que não compra a safra de fruta que estimulou a produzir; a aduana na tríplice fronteira que só tem um servidor do Ministério da Agricultura e dificulta quem quer exportar e quem quer importar. E tem também a Prefeitura de Rio Branco que, em cinco anos, não conseguiu licitar a compra de máquinas e equipamentos para construir cinco míseras casas de farinha com recursos de emendas de um parlamentar. Além disso tem a Sefaz. Caso o secretário atrase o pagamento por meia hora, a quebradeira é geral. No Acre, Donald Trump e Xi Jiping que nada! Gladson Cameli e Amarísio é o que importa. A agenda acreana real é essa.

As poucas vitórias na arena econômica existem, mas exigem a atuação de uma ou outra personagem. São vitórias típicas de uma conjuntura específica. No geral, por aqui, cometendo uma adaptação do que disse um antigo cronista, assiste-se a tudo bestificado.

Compartilhar esta notícia
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *