Josimar Ferreira do Nascimento, ou simplesmente “Josa”, representa 11 mil pessoas. Não são 11 mil pessoas quaisquer: são 11 mil trabalhadores extrativistas e agricultores de base familiar de Rio Branco, no Acre. Na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Extrativistas e Assemelhados, luta para que as pautas desse segmento da Agricultura entre na agenda de prioridades do poder público. E não tem sido fácil. Nesta rápida entrevista, um pouco da luta do sindicalista.
Josa, problemas não faltam. Hoje qual é a prioridade do agricultor de base familiar?
Eu sei que a pauta é velha. Eu sei que parece que a coisa não anda. Mas a prioridade hoje é, sem dúvida, ramal.
E por que a coisa não anda?
Não anda porque não está no interesse da classe política.
E por que vocês não pressionam?

Nós não pressionamos? Como assim? É o que eu mais faço. Nas poucas vezes que chamam os trabalhadores para conversar, eu faço as cobranças. Quando estivemos no Deracre, no ano passado ainda, eu falei para o diretor. ‘Rapaz, o que está acontecendo está errado. Ali no Ramal Jarinal, veio recurso para aplicar naquele ramal. Vá vê como é que está’.
E o que ele falou?
Não falou nada de prático. Aliás, aquela reunião, na prática, não serviu para nada. Ele disse que passaria tudo para a presidente. Mas até agora… Ali no Ramal do Jarinal o dinheiro foi aquele dinheiro que ficou famoso dos noventa e quatro milhṍes, lembra?… Que viriam para beneficiar os ramais…! Pois é! Veja aí como está o beneficiamento [mostra a foto do ramal embaixo d’água].
Agora, é preciso lembrar que ramal é atribuição das prefeituras, não é?
A questão dos ramais é da responsabilidade das prefeituras. Aliás, outro dia o secretário de Agricultura de Rio Branco disse na televisão que a Prefeitura de Rio Branco fez mil e oitocentos quilômetros de ramais. Eu queria saber onde estão esses ramais. Ele citou, por exemplo, que tinham recuperado duzentos quilômetros no Moreno Maia [Projeto de Assentamento]. Ali nem burro está conseguindo andar naqueles ramais.
Josa, a questão do crédito fica para segundo plano com esse cenário…
Crédito? Com esses ramais do jeito que estão, o agricultor vai acessar o crédito pra quê? Os que conseguem acessar o crédito e isso é outro problema que podemos conversar outro dia… porque na verdade, na verdade, fala-se muito de muitos recursos para o pequeno agricultor, mas cadê esse dinheiro mesmo? Mas voltando para a questão dos ramais, como é que o agricultor familiar vai pagar as parcelas do banco se ele não consegue escoar o que produz? Vai só se endividar.
Qual a perspectiva para resolver esse problema?
Se tivesse uma gestão que dialogasse, que chamasse para conversar para decidir junto. Não é chamar por chamar como foi feito no Deracre ano passado. É dialogar, perguntar para quem conhece os problemas, ouvir a gente… Hoje, o agricultor não tem assistência técnica, não tem mecanização de forma organizada, regular.
Falta política ou falta gestão?
As duas coisas. A verdade é que não há política pública para o pequeno agricultor. Tem agricultor aqui na Transacreana, aqui perto de Rio Branco, debulhando milho com a mão. Isso é um absurdo. Não há uma política de assistência adequada ao agricultor.
Tem jeito?
[rindo] Tá difícil. Mas temos que dar um jeito. É a luta.