Com sabão e óleo da floresta, produtor de Cruzeiro forma filhos na universidade

Manoel Bezerra aprendeu com a mãe a extrair óleo e fabricar sabão no Ceará. No Acre, transformou o conhecimento em renda e conquistou o maior sonho: ver os filhos com diploma.

Luiz Eduardo Souza

Do sertão cearense para o coração da Amazônia, a história de Manoel Bezerra é um retrato de persistência, sabedoria tradicional e superação. Morador de Cruzeiro do Sul, ele produz artesanalmente sabão, sabonete e óleos essenciais a partir de plantas e frutos nativos da floresta. Foi com esse trabalho, passado de geração em geração, que Manoel conquistou sua maior vitória: ver os filhos ingressarem e se formarem no ensino superior.

“Isso foi pra mim a maior conquista da minha vida. Eu aprendi com erro e acerto. Hoje, dou aula até pra professor de química, bioquímica e farmacêutica”, conta com orgulho o produtor, que chegou ao Acre na década de 1970 e decidiu retomar a tradição familiar ao perceber o potencial da biodiversidade local.

O conhecimento vem de casa. Ainda criança, no interior do Ceará, ele ajudava a mãe a coletar frutos de cipó, moer no moinho manual, extrair o óleo e fabricar sabão. “Ela fazia um sabão perfeito pra lavar roupa, tomar banho, tudo. Eu aprendi vendo e ajudando.”

No Acre, Manoel começou pequeno, fabricando sabão de forma quase experimental. Hoje, opera uma pequena estrutura artesanal, toda construída por ele mesmo – batedeiras, prensas, panelas – e já chegou a extrair até 3,7 toneladas de óleo em uma única safra, especialmente de buriti, produto vendido para empresas em São Paulo.

Os óleos essenciais que ele extrai, como os de copaíba, patauá e breu branco, chegam a custar até R$ 150 por 10 ml no mercado cosmético. Todo o processo, desde a coleta na floresta até a prensagem e destilação, é feito por ele com técnicas que combinam tradição, criatividade e respeito ao meio ambiente.

Apesar de não ter formação acadêmica, Manoel já foi convidado a compartilhar seu conhecimento com pesquisadores e professores universitários. “Dei aula lá em Xapuri com o pessoal da universidade. No começo tremia, mas fui com coragem. A doutora que me convidou disse: ‘O que o senhor faz, a gente não faz. O senhor também é doutor’.”

O reconhecimento é fruto de anos de trabalho silencioso. Mais que empreender, Manoel criou um legado. E como ele mesmo resume, com simplicidade e emoção: “Hoje eu vivo disso. Sustentei minha família, eduquei meus filhos com esse trabalho. Isso ninguém me tira.”

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