Da floresta para o mundo: extrativista acreana participa de evento internacional na França

Nilva da Cunha, presidente da cooperativa Santa Fé Copasso, fala sobre sua trajetória no extrativismo e como o contrato com a empresa francesa Veja transformou a vida de seringueiros no Acre.

Luiz Eduardo Souza

Aos oito anos de idade, Nilva da Cunha de Lima já carregava baldes e farofa pelas estradas de seringa acompanhando a mãe no corte do látex. Crescida no Seringal e com raízes profundas na floresta, ela hoje é presidente da Cooperativa Agroextrativista Santa Fé Copasso, no município de Capixaba, e uma das principais vozes do extrativismo sustentável no Acre. Seu trabalho a levou recentemente para um dos maiores centros da moda mundial: a França.

“Fomos para a França passar 10 dias maravilhosos, a convite da Veja, para o lançamento de um novo modelo de tênis. Levei uma produtora de borracha comigo e fomos entrevistadas por quase 200 pessoas, gente de tudo quanto é canto. Fomos falar do nosso trabalho, da nossa vida na floresta”, contou emocionada. Em uma de suas falas durante o evento, ela deixou uma frase marcante: “Se a floresta tem voz, ela fala através das mãos de quem a protege.”

O reconhecimento internacional é fruto de uma parceria construída com a empresa francesa de calçados sustentáveis Veja, através da Cooperacre. A marca compra borracha nativa diretamente das cooperativas, pagando um valor justo aos produtores.

“Antes, a última vez que meu pai vendeu borracha foi a 50 centavos o quilo. A gente não vendia, a gente trocava por açúcar, por mercadoria. Nunca dava pra pagar o patrão, porque ele cobrava o que queria na alimentação. Hoje, com a Veja, a gente vende a R$ 15 o quilo e recebe em dinheiro. A vida mudou totalmente”, afirma Nilva.

O impacto do contrato vai além do valor pago. Representa autonomia, dignidade e reconhecimento. “Hoje a gente compra o que quiser, onde quiser. A gente tem o direito de escolher”, reforça. Ela destaca que, embora outras empresas estejam interessadas, nenhuma ofereceu um preço tão justo quanto o da Veja.

Nilva continua atuando como produtora de borracha. Mesmo com a responsabilidade de presidir a cooperativa, ela ainda encontra tempo para cortar seringa. “Nasci e me criei nesse ofício. Não me vejo morando na cidade. O que eu gosto mesmo é da mata”, diz.

A presença de mulheres em espaços de liderança no extrativismo ainda é rara, mas Nilva se destaca por representar com firmeza e sensibilidade o modo de vida das comunidades tradicionais da floresta. “Amo a mulher que me tornei, porque lutei para ser ela”, declara, com orgulho.

A história de Nilva é símbolo da resistência e da renovação do extrativismo no Acre. Um exemplo de como, com apoio, organização e parcerias corretas, é possível proteger a floresta, gerar renda e levar a voz da Amazônia para o mundo.

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