Um documento divulgado neste sábado (10) por pesquisadores e representantes de instituições do Brasil, Peru e Bolívia acendeu o sinal de alerta para o estado do Acre. O relatório, produzido pela Iniciativa MAP (Madre de Dios–Peru, Acre–Brasil, Pando–Bolívia), aponta que a região está atravessando o período mais crítico de mudanças climáticas dos últimos 34 anos.
De acordo com o alerta, entre 1990 e 2024, a temperatura média anual na região MAP aumentou cerca de 1,8°C. Os anos de 2023 e 2024 já haviam registrado recordes de calor, e, mesmo com a diminuição dos efeitos do El Niño, as projeções seguem preocupantes.
“O Acre foi um dos estados mais atingidos pela seca entre outubro de 2024 e março de 2025, com vários municípios enfrentando até quatro meses sob condições severas, extremas ou excepcionais”, destaca o texto, que se baseia em dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
Além da estiagem, o relatório chama atenção para a poluição do ar. Em setembro de 2024, Rio Branco registrou níveis alarmantes de material particulado fino (PM2.5), atingindo 100 µg/m³ — seis vezes acima do limite diário recomendado pela Organização Mundial da Saúde. A exposição contínua a essa fumaça pode reduzir a expectativa de vida da população da região MAP em vários anos.
O estudo também alerta para a tendência de agravamento das secas e incêndios florestais, impulsionados pelo desmatamento e pela ausência de políticas efetivas de restauração ambiental. “A combinação de aumento da temperatura, mudanças na chuva e perda de cobertura florestal nos leva a um cenário cada vez mais severo”, dizem os especialistas.
Áreas protegidas são barreiras naturais
A publicação ressalta a importância estratégica das áreas protegidas, como a Reserva Extrativista Chico Mendes, o Parque Estadual Chandless e as Terras Indígenas do Alto Purus e Mamoadate. Essas unidades formam um corredor trinacional de biodiversidade, essencial para manter os rios, frear a degradação e garantir a resiliência das comunidades tradicionais, indígenas e ribeirinhas.
O que fazer?
O documento recomenda ações imediatas, como a atualização dos planos de contingência nos três países, a inclusão de temas climáticos na educação básica e superior, a ampliação das redes de monitoramento da qualidade do ar e da água e o fortalecimento da governança ambiental trinacional.
Os signatários do alerta incluem pesquisadores da Universidade Federal do Acre, Embrapa Acre, Cemaden, Universidad Amazónica de Pando e instituições ambientais do Peru, como o SERNANP.