Responsável por mais de 50% da produção nacional de grãos, lácteos, aves e suínos, o cooperativismo se firma como pilar da economia brasileira e, no Acre, vai além: é instrumento estratégico para geração de renda, valorização do saber tradicional e inclusão social. A afirmação é do presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras no Acre (OCB-AC), Valdemiro Rocha, que defende o modelo como essencial para consolidar uma bioeconomia florestal de base sustentável no estado.
“O cooperativismo no extrativismo, na agricultura familiar e nas cadeias produtivas como soja, milho e café, é uma tecnologia social adaptada à realidade amazônica. Ele transforma desafios históricos em oportunidades reais de desenvolvimento”, afirma Rocha.
Extrativismo com valor agregado
No setor agroextrativista, o cooperativismo atua desde a coleta até a comercialização de produtos como castanha, borracha, óleos e frutas nativas. “Na coleta, promovemos logística coletiva, reduzimos desperdícios e incluímos comunidades isoladas no circuito econômico. No beneficiamento, agregamos valor com agroindústrias coletivas e tecnologias sustentáveis. E na comercialização, eliminamos atravessadores e abrimos acesso a nichos como o mercado orgânico e de comércio justo”, explica o presidente.
Segundo ele, a Rede Cooperacre, com 12 cooperativas atuando em todos os municípios acreanos, é um exemplo de integração eficiente entre os elos da cadeia extrativista. “A floresta passa de passivo improdutivo a ativo gerador de riqueza. As comunidades ganham protagonismo e autonomia”, destaca.
Agricultura familiar fortalecida
A agricultura familiar também ganha força com o cooperativismo, principalmente diante dos obstáculos estruturais do estado, como grandes distâncias, baixa densidade logística e produção fragmentada. “As cooperativas organizam colheitas, viabilizam transporte, instalam unidades de processamento e garantem acesso a mercados institucionais como o PNAE e o PAA”, afirma Rocha.
Com a atuação cooperativa, pequenos agricultores acessam infraestrutura antes inacessível, como casas de mel, farinheiras e câmaras frias, e ampliam o valor dos produtos com rotulagem e padronização. “É um circuito virtuoso: mais renda, menos perdas, mais permanência no campo e menos êxodo rural”, resume.
Soja, milho e café: cooperar para competir
Nas cadeias do agronegócio, como soja, milho e café, o cooperativismo garante competitividade. Valdemiro aponta que o modelo permite acesso coletivo a crédito rural, compra de insumos com economia de escala, uso compartilhado de máquinas agrícolas e estruturação de canais de venda mais rentáveis.
“No café, por exemplo, temos desde a escolha da muda até a torrefação local organizada em escala coletiva. Isso garante qualidade, padronização e acesso a mercados de cafés especiais”, relata. “No milho e na soja, conseguimos viabilizar a produção com acesso a crédito, mecanização e planejamento técnico coordenado.”
Caminho estratégico para a bioeconomia
Para Valdemiro Rocha, o cooperativismo não é apenas uma ferramenta de apoio — é o pilar que sustenta o futuro da produção rural acreana. “O cooperativismo não é apenas um apoio; é o elo integrador que torna viável a permanência e o sucesso dos produtores rurais vinculados ao agroextrativismo, à agricultura familiar e também ao setor agroempresarial no Estado do Acre”, afirma.
Segundo ele, o modelo cooperativo representa a principal via para a consolidação de um desenvolvimento justo, autônomo e sustentável na região. “Não é apenas um arranjo produtivo local. É uma solução de futuro para a Amazônia acreana, pois integra saber tradicional, ciência e mercado com base nos princípios do desenvolvimento sustentável”, conclui.