A guerra de tarifas praticada pelo presidente Donald Trump está apressando o redesenho dos mapas logísticos no cone Sul. E isso pode forjar, no Acre, vantagens comparativas construídas no início dos anos 2000, ainda nas administrações de Fernando Henrique Cardoso no plano federal e de Jorge Viana, na gestão estadual.
Um dos últimos atos do segundo mandato do ex-presidente tucano foi justamente o lançamento da “Pedra Fundamental” da construção da Estrada do Pacífico. O evento aconteceu com a presença do então presidente do Peru, Alejandro Toledo. Jorge Viana, construtor da única ponte política entre PT e PSDB no país, moldou uma parceria eficaz com o presidente FHC.
Na sequência, a “integração latino americana” ganhou um ritmo mais frenético na agenda do Planalto, já com o presidente Lula ocupando o Planalto. Em agosto de 2004, na Tríplice Fronteira, a mesma onde o tucano FHC deu um dos últimos voos como presidente alguns anos antes, estavam Alejandro Toledo, do Peru; Carlos Mesa, da Bolívia; e Lula. Os três cortaram a faixa e inauguraram uma estrada que unia a pobreza de três povos.
Vinte anos e muitas cambalhotas depois, o mundo deu voltas políticas com impacto direto no fluxo do comércio global. E é nesse aspecto que o Acre começa a ter uma posição que pode ser, de fato, estratégica. E para entender a importância disso é preciso olhar alguns números.
Atualmente, 60% do PIB do mundo está na Ásia, um panorama novo, construído nos últimos 20 anos. Outro dado: 40% do mercado exterior praticado no mundo também acontecem nos países asiáticos.
Com esses dois dados, o governo chinês calculou bem onde investir US$ 3,6 bilhões para construir uma alternativa ao Canal do Panamá, atualmente ameaçado pelas investidas do presidente norte americano. O Porto de Chancay (alguns peruanos ainda chamam de Callao) é o fio da seda estendido ao cone Sul da América: o fim ou o começo de uma rota com multimodais, estendendo ao modal ferroviário.
Os três povos, aqueles povos representados na tríplice fronteira há mais de 20 anos, continuam pobres. É verdade. Mas hoje o diretor do maior frigorífico do Acre não vacila em dizer que pode colocar carne de porco no oeste do México em 10 dias. E anuncia que o Banco da Amazônia ampliará dos atuais 60 para 150 o número de galpões para engorda de porcos por parte da agricultura familiar.
Se o comércio dos produtos primários, commodities, não diferencia o Acre do que já ocorre no país há 500 anos, qual alternativa está sendo elaborada hoje para mudar o perfil da balança comercial daqui?
Parabéns pelo texto!!.