Coopercafé e a transformação do cooperativismo no Juruá motivam análise do Grupo Legal

Abordagem do economista Orlando Sabino valoriza a prática cooperativa como um elemento que qualifica as cadeias produtivas regionais

Redação
Orlando Sabino (segundo da esquerda para a direita, de blusa com manga comprida) integra Grupo Legal, da Ufac, que analisa o impacto do modelo cooperativo nos arranjos produtivos locais. Na foto, com direção da OCB/Acre e diretores da Coopercafé. (Foto: Cedida)

O Projeto Legal no Acre publicou um novo boletim de análise assinado pelo pesquisador Orlando Sabino da Costa Filho, que apresenta um panorama detalhado da evolução da Coopercafé, cooperativa sediada em Mâncio Lima que se tornou símbolo da nova fase do cooperativismo rural no Acre.

O estudo, intitulado “O novo cooperativismo no Juruá – O caso da Coopercafé”, revela como a cooperativa transformou, em apenas quatro anos, a cafeicultura regional em uma atividade estruturada, sustentável e integrada à bioeconomia amazônica. A previsão para 2025 é de que a indústria processe entre 35 mil e 40 mil sacas de café, consolidando o Juruá como um dos polos mais promissores da produção agrícola no estado.

Pesquisa evidencia modelo inovador de gestão e governança

Orlando Sabino analisa como a Coopercafé adotou práticas de governança consideradas exemplares para a economia rural da Amazônia. A cooperativa realiza assembleias mensais, presta contas de forma transparente e exige formação cooperativista e lavoura implantada como condições para ingresso.

Essa estrutura fortalece a participação dos membros, evita adesões formais sem produção real e garante o comprometimento dos cooperados.

O boletim também destaca o papel da assistência técnica contínua, com equipes do SEBRAE, SENAR, Embrapa Acre e UFAC, que acompanha desde o plantio até o beneficiamento, elevando o padrão de produtividade e profissionalizando a cadeia do café no Juruá.

Industrialização, energia limpa e sustentabilidade ambiental

O pesquisador evidencia que um dos maiores saltos da cooperativa ocorreu com a instalação da indústria de secagem e classificação de café, viabilizada pela ABDI e por emendas parlamentares. O complexo utiliza secagem indireta, evita contato do grão com fumaça e classifica o produto nos padrões exigidos pelo mercado nacional.

A Coopercafé também se destaca pela adoção de práticas ambientais rigorosas:

  • desligamento automático de cooperados envolvidos em desmatamento ilegal;
  • uso de energia solar fotovoltaica;
  • reaproveitamento completo da água da chuva;
  • utilização de lenha legalizada com manejo autorizado;
  • incentivo a sistemas agroflorestais.

Segundo Orlando, essas ações colocam a cooperativa na vanguarda da produção agrícola sustentável na Amazônia.

Desenvolvimento regional e novos horizontes

O boletim mostra que o crescimento da Coopercafé está diretamente ligado à integração ao sistema Cooperacre, que oferece suporte técnico, contábil e logístico. A cooperativa passou de 21 para mais de 180 cooperados, e outros 50 produtores estão em fase de ingresso.

A organização tem atraído jovens e mulheres para a cafeicultura e abriu espaço para inclusão produtiva em comunidades que antes dependiam exclusivamente da farinha e de atividades extrativistas.

Desafios ainda existem, mas o caminho está consolidado

O estudo aponta limitações persistentes, como dificuldade de acesso ao crédito, limitações logísticas de transporte e a necessidade de ampliar sistemas de irrigação.

Mesmo assim, Orlando Sabino destaca que a cooperativa segue financeiramente equilibrada, com governança forte, apoio institucional crescente e um novo modelo de cobrança que garantirá autonomia financeira no longo prazo.

Um marco para o cooperativismo amazônico

O pesquisador conclui que a Coopercafé representa “um projeto de futuro”: uma experiência que combina inclusão social, sustentabilidade ambiental, governança, industrialização e renda digna, elementos que definem a nova geração do cooperativismo na Amazônia.

A publicação reforça que o caso do Juruá é hoje uma das provas mais consistentes de que o cooperativismo pode ser vetor de desenvolvimento territorial, fortalecimento comunitário e consolidação da bioeconomia na região.

(Texto de Andréia Oliveira)

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