A agricultura conservacionista (AC) se estabelece como um modelo de sucesso não apenas ambiental, mas também econômico para a produção familiar na região do Juruá, no Acre. Um estudo detalhado da Embrapa Acre, publicado em junho de 2024, atesta que o sistema é uma alternativa que pode ser lucrativa para o produtor, capaz de gerar renda significativamente superior à média do mercado local, ao mesmo tempo em que promove a saúde do solo e a sustentabilidade. A análise demonstra a viabilidade financeira do sistema, que possui robustez econômica mesmo sob variações de preço, mantendo a rentabilidade em cenários de flutuação de até 25%.
A Transição Agrícola e o Contexto da COP 30
Um dos pontos mais cruciais da adoção da agricultura conservacionista no Juruá é a sua capacidade de substituir o método tradicional de “derruba e queima” pelas práticas de manejo do solo que preconiza a agricultura conservacionista: o mínimo revolvimento do solo, a cobertura permanente do solo e a diversificação de cultivos. O método de “derruba e queima”, historicamente usado pelos pequenos produtores, degrada a saúde do solo, contribui para a perda de nutrientes e, principalmente, é uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) devido à queima da biomassa florestal.
A transição para a agricultura conservacionista é um passo fundamental para o Brasil, e é uma prática que pode ser discutida na COP 30 como um dos cases a ser referenciado, na Conferência do Clima da ONU que, neste momento, está ocorrendo* em Belém (PA). O evento coloca a Amazônia e o país no centro das discussões globais sobre mitigação e adaptação climática. Esta tecnologia, em particular, está em evidência na AgriZone, o espaço de divulgação das tecnologias da Embrapa no contexto da COP 30, sendo apresentada como uma solução concreta para o desenvolvimento rural alinhado às metas de descarbonização. Ao adotar a agricultura conservacionista, os produtores familiares do Juruá demonstram um caminho prático para o desenvolvimento rural que se alinha com as metas de descarbonização e o compromisso de combate à degradação do solo. O sistema conservacionista contribui para o sequestro de carbono e na melhoria da qualidade do solo, o que é um fator-chave para a resiliência produtiva frente a eventos climáticos extremos.
Lucratividade e Impacto Social
Os resultados do estudo reforçam que o desenvolvimento sustentável é economicamente vantajoso. Com um custo médio de produção de R$ 35,1 mil e uma receita média anual de R$ 63,9 mil, a AC aumenta a lucratividade e a capacidade de pagamento dos agricultores. Essa rentabilidade, aliada à diversificação de culturas, contribui para a redução da dependência de monoculturas e, de forma vital, apresenta o potencial de frear o êxodo rural, ao gerar emprego e remunerar o trabalho no campo acima dos valores de mercado.
A adoção do sistema reflete um movimento global, com a agricultura conservacionista sendo praticada em uma área internacional estimada em 200 milhões de hectares, demonstrando a relevância da inovação em práticas agrícolas para a segurança alimentar e a proteção ambiental em escala planetária. Para que os benefícios sejam maximizados, a pesquisa da Embrapa Acre reitera a necessidade urgente de políticas públicas e assistência técnica para garantir o acesso a linhas de crédito rural adequadas e a difusão das inovações tecnológicas no campo.
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Este artigo é baseado no estudo “A agricultura conservacionista familiar é viável econômica e financeiramente no Juruá, Acre, Brasil?”, da Embrapa Acre (Documentos 183, junho/2024), disponível em [https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1172804/1/27954.pdf].
