Exporta Mais Amazônia e o desafio da regência

Evento reforça papel da Amazônia no comércio internacional e levanta debate sobre maturidade produtiva e responsabilidade econômica da região.

Redação
Empresários e produtores da Amazônia participam de rodadas de negócios do Exporta Mais, programa que amplia a presença regional nas exportações.

Em 337 reuniões de negócios concentradas em dois dias de trabalho, os 25 compradores de 18 países que participaram do Exporta Mais Amazônia fizeram história no Acre. Acostumados com ambientes de contratos concorridos, em lugares sofisticados do mundo, eles talvez nem tenham dimensão de como foram importantes. Raciocinam a vida na base de “containers”. As imagens do noticiário econômico, mostrando aquelas caixas de metal gigantes empilhadas umas por cima das outras, não abarcam um ponto nevrálgico do processo produtivo: ali dentro seguem espremidos sofrimentos e esperanças de toda ordem.

O Exporta Mais Amazônia expõe, de forma espontânea, como tanto o poder público quanto uma parte da iniciativa privada se sofisticaram ao longo dos anos. Quem acompanha o teimoso noticiário econômico regional vai se lembrar de como eram celebradas as poucas caixas de bombons de cupuaçu que saíam de uma doceria do bairro Habitasa para Alemanha. Da mesma forma, as poucas carretas de milho que saíram de frente da sede da Secretaria de Estado de Produção Familiar direto para o Peru. Eram pequenas vitórias que tinham a força do símbolo. Estatisticamente, eram fatos irrisórios, comparados a outras regiões do Brasil, que, àquela época, começavam a ganhar intimidade como fornecedores de alimentos para o mundo rico no concorrido mercado internacional. Eram os anos do auge da popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso.

À época, o Acre também conhecia um sopro de normalidade institucional. As instâncias de poder atuando cada uma em seus limites e as lideranças políticas do Governo do Estado cumprindo a lei nos ítens mais básicos e sendo ovacionadas por isso a cada eleição.

Desta época de uma economia tão rudimentar à contabilidade dos R$ 101,5 milhões em expectativas de negócios do Exporta Mais Amazônia tem tanta história que nem dá para ser contada. O leitor mais cético pode olhar a lista de produtos e argumentar: “Mas vocês estão comemorando o quê? Vocês estão exportando produtos primários!”.
É um olhar para a cena. Talvez, não verdadeiro, já que uma parte dos produtos recebe algum grau de beneficiamento. Exceção feita ao café (que é comercializado em grão), os demais produtos têm alguma intervenção da indústria regional. Pouca, mas tem.

Basicamente, foram oito produtos comercializados: açaí, carne bovina, café robusta amazônico, frutas processadas, artesanato, carne suína, castanha do Brasil, farinha de mandioca. Outro detalhe que precisa ser reforçado: o Exporta Mais Amazônia reuniu empresas de toda a região. Das 76 empresas da região, 44 eram acreanas.

É claro que o ideal era que as exportações acontecessem com os produtos já integralmente finalizados, prontos para o consumo. Mas isso é um refino que, entre os produtos ofertados, somente o artesanato apresenta. Um colar, uma pulseira, uma tornozeleira são adquiridos não apenas como um adorno para a indústria da moda. O que vai ali é História concentrada: não cabe em “container”. E para quem acha que o artesanato não tem viabilidade econômica, os R$ 6,6 milhões comercializados rebatem o preconceito. As proteínas animais (bovina e suína) somaram R$ 4,4 milhões. Os demais produtos (açaí, cafés, castanhas, farinha, frutas) venderam R$ 90,5 milhões.

Qual o mérito do programa “Exporta Mais, Brasil”? O desafio que o presidente Lula apresentou ao presidente da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos, Jorge Viana, foi descentralizar a venda ao mercado externo. O presidente queria as regiões Nordeste e Norte com presença consolidada na agenda internacional. Isso exige uma mudança de mentalidade no empresariado regional. Daí, a parceria estratégica com o Sebrae.

Nesse aspecto pontual da exportação como um desafio ao governo e à iniciativa privada, a Amazônia tem uma responsabilidade à parte. Se há um senso comum de identificar a região como uma “região rica”, uma “região estratégica”, o que explica uma presença tão baixa na agenda de exportações?

O Exporta Mais Amazônia incomoda-se com esse problema; tenta equacioná-lo e apresenta rumos concretos para a solução. Toda essa conversa é difícil de ser apreendida por quem critica a monetarização da floresta e derivados. É um debate válido. Mas, por enquanto, na realidade da rotina econômica, é preciso alguma orquestração para que as coisas por aqui sejam mais produtivas, gerando a mínima injustiça possível. E nessa orquestra, a batuta é mantida por política pública. É assim em todo canto, por mais que alguns digam que não.

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