A referência ao slogan publicitário é inevitável. O milho é agro. A soja é agro. O boi é agro. A cana é agro. O porco é agro. O churrasco é agro. O vinho é agro. Até mesmo a cerveja é agro. Se tudo é agro, então, por silogismo, os Geoglifos também são agro. Na verdade, são muito mais que isto. Para evitar discórdia, são, inclusive, isto. É a lógica. Se esses vestígios, que nos sugerem formas de organização social remotas, interferem na rotina da produção agrícola hoje, é preciso, de forma urgente, entendê-los para valorizá-los.
A semana que passou foi importante. O Acre teve a presença de uma referência mundial nos estudos do Geoglifos da Amazônia, o professor Alceu Ranzi. Ele veio fortalecer parceria com o Governo do Acre para consolidar a futura “Rota dos Geoglifos”.
Para quem observa a vida por meio de cifras, pode entender essa rota como dinheiro. Sim, porque a cadeia produtiva do Turismo é poderosa e os Geoglifos já demonstram esse potencial, mesmo com investimentos mínimos a quem viaja para saber mais sobre o assunto.
Para quem observa a vida sob a ótica de coisas mais densas e reveladoras, pode observar a Rota dos Geoglifos como riqueza. Mas uma riqueza outra, do tipo que ajuda a dizer quem fomos e como vivemos por aqui há muitos… muitos anos.
Para os que têm dificuldades de entender a importância da preservação dos sítios arqueológicos, existe a Lei 3.924/1961. Essa referência legal dispõe sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos. Quem não obedece a lei age na ilegalidade.
Os produtores de grãos e pecuaristas sentem-se prejudicados. Argumentam que as estradas que foram construídas pelos governos destruíram sítios arqueológicos tanto quanto muitos produtores agrícolas. Mas a lei, argumentam, retroage para prejudicar quem produz. Não se tem notícia de governos que tenham sido responsabilizados pelos danos aos sítios arqueológicos. Mas, vez por outra, dizem, há produtores tendo prejuízos com os geoglifos.
A polêmica é viva. E está na ordem do dia porque a Rota dos Geoglifos irá ser viabilizada. Se ela irá se consolidar, só o tempo, o investimento e o amadurecimento da sociedade sobre o assunto dirão. É preciso reflexão consequente se um punhado de pés de milho, de soja ou algumas reses têm mais valor do que milhares de anos de história tatuadas na terra e que estão ali expostas para quem se dispõe a lê-las.
É preciso vigilância. A tendência é que, ano que vem, o Senado e a Câmara dos Deputados fortaleçam a lamentável percepção de que “um cocozinho petrificado em índio (sic)” é impeditivo para crescimento econômico.
Qual é a estratégia mais eficaz para proteger os geoglifos? Não há dúvidas: é torná-los mais próximos das pessoas. Essa rota precisa ser pavimentada com comprometimento, com dedicação e investimentos dos governos.
A vitória virá no dia em que um produtor não se sentir prejudicado quando, em sua propriedade, for identificado um sítio arqueológico. Atualmente, quando um sítio arqueológico é identificado não há mecanismos de ressarcimento ao proprietário por isto. Ao contrário: o produtor tem que ajudar na preservação. É um custo ou é uma oportunidade? É a pergunta que o Acre precisa se impor o desafio de responder.