As chuvas intensas registradas nos últimos dias no Acre têm provocado um efeito em cadeia no campo, com ramais intrafegáveis, comunidades rurais isoladas e plantações devastadas, especialmente em áreas próximas aos rios. O excesso de água dificulta o acesso às propriedades, impede o escoamento da produção e gera prejuízos que chegam até a comercialização de alimentos na capital.
Levantamentos da Defesa Civil Municipal apontam que o volume de chuva registrado em Rio Branco nas últimas 24 horas foi de 44,40 milímetros, contribuindo para a elevação rápida do nível do Rio Acre. Monitoramento feito pela plataforma “De Olho no Rio”, da Prefeitura, indicou que o manancial atingiu 10,19 metros por volta das 10h45 desta sexta-feira. O órgão destaca que o comportamento do rio acompanha o grande volume de chuva acumulado ao longo de dezembro, que já ultrapassou a média esperada para todo o mês.
Produtor rural, Hadamés Wilson relata que, embora o período seja considerado positivo para o plantio de café e para a formação de pastagens, os impactos negativos superam os benefícios. Segundo ele, regiões como Acrelândia, Porto Acre e áreas rurais de Rio Branco enfrentam sérios problemas de infraestrutura, com ramais tomados por atoleiros, pontos alagados e até pontes danificadas.
Em Porto Acre, produtores do Ramal da Seringueira, além de localidades como Tocantins e Pique do Meio, estariam completamente isolados. “Tem lugar que não passa carro de jeito nenhum. O produtor fica preso, sem conseguir sair e sem conseguir fazer a produção chegar”, afirma Hadamés.
Outro problema recorrente é a perda de lavouras, principalmente das chamadas lavouras brancas, como macaxeira, banana, melancia e hortaliças cultivadas às margens dos rios. Com a subida acelerada das águas, muitos agricultores veem a produção ser tomada antes mesmo da colheita. Para quem tenta retirar os produtos a tempo, surge outro obstáculo: a falta de acesso pelos ramais. “Se não colhe, perde com a cheia. Se colhe, corre o risco de não conseguir vender”, resume o produtor.
As dificuldades no campo refletem diretamente no Ceasa de Rio Branco. Trabalhador do local há mais de dez anos, o comerciante José Almeida (personagem fictício) relata queda no movimento e prejuízos financeiros. “A produção não está chegando como antes. Tem produtor que perde tudo na roça e outros que até conseguem colher, mas não conseguem sair do ramal. Com isso, o número de clientes diminui e o prejuízo é grande”, afirma.
Segundo ele, a chuva afeta tanto a oferta quanto a procura. “Quando a mercadoria não chega, o cliente também deixa de vir. A chuva destrói a produção e ainda impede a venda”, acrescenta.
O coordenador da Defesa Civil Municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão, explica que o cenário chuvoso deve continuar ao longo de toda a segunda quinzena de dezembro. De acordo com ele, a atuação do fenômeno La Niña tem intensificado a frequência e a duração das chuvas, favorecendo episódios prolongados e, em alguns casos, praticamente contínuos.
Falcão destaca ainda que Rio Branco já registra mais de nove horas seguidas de chuva, com previsão de continuidade ao longo do dia. A tendência é de uma breve pausa no início da tarde, seguida por novas precipitações durante a noite, mantendo o alerta para novos transtornos tanto na zona urbana quanto nas áreas rurais.
Enquanto para parte da população urbana o clima chuvoso pode parecer mais ameno, no campo a realidade é de isolamento, insegurança e perdas para quem depende diretamente da produção agrícola para garantir renda e sustento.
