“Tarifaço” pode gerar perda de US$ 2,7 bi ao agro brasileiro

CNA alerta para efeitos das taxas adicionais e acordos internacionais em 2026

Luiz Eduardo Souza
A diretora da CNA, Sueme Mori, explica os impactos das tarifas dos EUA no setor agropecuário brasileiro.Foto: Reprodução.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que as perdas do setor agropecuário brasileiro com as tarifas impostas pelos Estados Unidos podem chegar a US$ 2,7 bilhões em 2026. Segundo a diretora de Relações Internacionais da entidade, Sueme Mori, 45% do que o Brasil exportou para o mercado americano em 2024 segue com cobrança extra de 50%, o que tende a afetar as vendas futuras.

“Produtos que têm o mercado americano como principal destino ficaram fora da lista de exceções, como pescados, sebo bovino, mel, uvas e álcool etílico”, afirmou.

A projeção foi apresentada nesta terça-feira, 9, durante o balanço do Agro em 2025 e as perspectivas para 2026. Mori destacou que a trajetória das exportações mudou após a entrada em vigor da tarifa adicional de 40%, em agosto. De janeiro a julho, houve crescimento de 20% no valor exportado. De agosto a novembro, porém, o movimento se inverteu e houve queda de 38%.

Entre janeiro e novembro, o Brasil exportou US$ 10,5 bilhões em produtos agropecuários aos Estados Unidos, queda de 4% na comparação anual. O café verde foi o item mais comprado pelos norte-americanos.

Efeitos de acordos globais

A CNA também alertou para os impactos indiretos dos acordos comerciais firmados pelos Estados Unidos com outros países. Esses pactos costumam envolver redução tarifária, investimentos em território americano e compromissos de compra de produtos, geralmente agropecuários — o que pode reduzir a demanda por itens brasileiros.

Exemplo citado é o acordo do Reino Unido com os EUA, que prevê a compra de US$ 700 milhões em etanol americano e cria uma cota para carne bovina dos Estados Unidos.

China no radar

Sobre a China, maior parceira do Brasil, a CNA destacou três pontos de atenção:

  • negociações comerciais entre chineses e americanos, que podem incluir soja e carne bovina;
  • o novo Plano Quinquenal chinês, que reforça a meta de ampliar a própria produção de grãos;
  • a investigação em andamento sobre salvaguardas para carne bovina importada.

O resultado da investigação deve sair no fim de janeiro. Se houver restrições, a importação chinesa pode ser reduzida — impacto direto para o Brasil, maior fornecedor da proteína.

De janeiro a novembro, a China comprou US$ 52 bilhões em produtos agropecuários brasileiros, alta de 10%.

União Europeia

A CNA também acompanha com preocupação a discussão sobre salvaguardas agrícolas na União Europeia, especialmente no contexto do acordo Mercosul–UE, previsto para ser oficializado ainda este ano. O bloco aparece como segundo principal destino do agro brasileiro, com US$ 22,9 bilhões exportados de janeiro a novembro (+5,4%).

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