O Congresso Internacional de Pecuária Leiteira da Amazônia Ocidental é um evento bienal. Dadas as carências e problemas que o segmento vive por aqui, existe a necessidade de que o Governo do Acre e as prefeituras fomentem as ações dos cientistas o tempo todo. Dois anos é tempo demais para repensar os métodos de trabalho.
Há mecanismos de convênios em que a Secretaria de Estado de Agricultura, junto com os municípios podem estruturar um plano de ação conjunto, via Associação dos Municípios do Acre, para que a Cipel ofereça consultorias em parceria com a Ufac, de maneira que o produtor tenha orientações permanentes e vigilantes dos mais renomados pesquisadores do país.
O Acre precisa parar de olhar com saudosismo sem sentido quando o assunto é leite. Lembra-se da Companhia Industrial de Laticínios do Acre (Cila) com um ar quase melancólico. Difícil admitir que até a abertura da BR-364 no sentido Porto Velho impactou as bases da pecuária leiteira local. O isolamento rodoviário, em boa medida, era uma proteção cômoda para os administradores da companhia.
A autossuficiência em leite era uma condição imposta pela escassez da infraestrutura rodoviária. Era a insustentabilidade do comércio do leite com outros mercados que forçava a concepção de uma suposta excelência da Cila. Boa parte da população acreana alimentava-se, durante um bom bocado do ano com o leite da castanha.
Supermercado aqui era lugar de frequência para privilegiados consumidores. Era o tempo áureo do Dois Oceanos (onde hoje existe uma agência bancária na esquina das ruas Rui Barbosa e Marechal Deodoro). Tinha também o Mercadinho do Sr. Oliveira, na Rua do Aviário. E, só anos mais tarde, viria a aparecer o Supermercado UAI. O Araújo tinha uma modesta portinha ali na Estação Experimental.
O que se quer demonstrar é que a oferta do produto (leite e derivados) tinha limitações graves no comércio local. No Dois Oceanos, por exemplo, a gôndola com iogurtes e queijos só ficava “sortida” por um tempo maior no período do verão amazônico. Não havia como manter um supermercado abastecido pagando frete de mercadoria por transporte aéreo. Quem bebia leite diariamente ou comprava o “barriga mole” nas padarias ou comprava nas Toyotas que vendiam em pontos estratégicos nos bairros.
Com a melhoria da infraestrutura rodoviária e a integração com Porto Velho, expôs-se a verdade em relação à qualidade da pecuária leiteira acreana. A abertura do mercado acreano a outros produtos revelou todas as nossas fragilidades.
Do fim dos anos 80 para cá, pouca coisa mudou. Os programas públicos de incentivo não conseguem ter sustentabilidade. Oscilam aos humores dos gestores de plantão. Não há continuidade. Na arena privada, o produtor, descapitalizado, não tem condições de investir em pastagens. Aliás, é necessário ainda uma educação do produtor para que ele entenda que é necessário, primeiro, cuidar daquilo que a vaca come para, só depois, pensar em ordenhas, tanques e outros instrumentos necessários para o manejo do leite.
Melhoramento genético é um luxo, diante dos desafios que ainda são necessários superar por aqui. Por isso, é que se faz um apelo para que a Seagri e os prefeitos observem a importância de se aproximar dos pesquisadores do Cipel. Talvez, se tivessem conversado mais, teria evitado o equívoco de a maior prefeitura do Acre ter investido energia e dinheiro na construção de uma unidade de produção de leite de soja. É de lascar!
