Na lógica do capitalismo global, o desenvolvimento para todos é uma ilusão. Isso já foi apontado por Celso Furtado nos anos 1970, quando escreveu que o “desenvolvimento é um mito”. E os dados mostram que ele estava certo: desde então, pouquíssimos países considerados “subdesenvolvidos” conseguiram, de fato, romper essa barreira — e quando o fizeram (como Coreia do Sul ou Israel), foi em contextos marcados por conflitos e guerra. A China? Um caso à parte, com caminhos próprios.
A verdade é que o sistema capitalista precisa manter desigualdades estruturais. O progresso de alguns depende do atraso de muitos. Países como o Brasil permanecem “no seu lugar” para que os desenvolvidos sustentem seus padrões de consumo e acumulação. Somos a fazenda do mundo: exportamos matérias-primas de baixo valor agregado para abastecer a engrenagem global. E é exatamente isso que o sistema espera de nós.
Mesmo que quiséssemos — e fosse permitido — alcançar o padrão de vida médio de europeus ou norte-americanos, o planeta não suportaria esse nível de consumo globalizado. A conta não fecha. É a partir dessa realidade que a extrema-direita propõe o fascismo como “solução” para um problema real. Uma saída catastrófica. Já a esquerda… parece ter perdido sua voz.
No Brasil, a situação é agravada por décadas de dependência externa e pela recente financeirização da economia. O país virou refém dos bancos e do capital especulativo. A indústria definha. Já representou 30% do PIB; hoje, não passa de 15%. Restou à grande agricultura carregar a balança comercial — com empregos de baixa qualificação, baixo salário e alta vulnerabilidade às crises internacionais.
Mesmo a pouca indústria que ainda temos está nas mãos de multinacionais. A Embraer, por exemplo, depende de peças importadas. Na Amazônia, o modelo se repete: produção em larga escala de commodities (soja, gado, castanha, madeira), conflitos, destruição ambiental — e nenhuma melhora significativa na vida das populações locais. No Acre, destacam-se soja e gado como produtos de exportação, além da madeira e da castanha como commodities regionais.
A pergunta inevitável é: e agora, o que fazer?
Foi justamente para pensar caminhos que criamos, na UFAC/PPGeo, o grupo de pesquisa Desenvolvimento e Integração Regional. Nosso objetivo é refletir, propor e debater alternativas reais diante desse modelo excludente.
Porque não dá mais para fingir que o “desenvolvimento” vai nos alcançar um dia, se seguimos produzindo riqueza que não fica aqui.
(Carlos Estevão é professor do curso de Economia – Ufac)