Durante o sétimo dia da Expoacre 2025, o chefe-geral da Embrapa Acre, Bruno Pena, concedeu nesta sexta-feira, 01, uma entrevista ao ac24agro no Parque de Exposições, em Rio Branco (AC). A conversa teve como foco as inovações tecnológicas apresentadas pela instituição na feira, como as iniciativas Netflora e Guaxupé.
Ao longo da entrevista, Pena reforçou a importância da ciência aplicada à produção agropecuária e florestal no Acre e ressaltou o papel estratégico da Embrapa na construção de políticas públicas sustentáveis. Ele destacou tecnologias como o Netflora, voltada para o manejo florestal madeireiro, e o sistema Guaxupé, que promove a pecuária de baixo carbono. Os dois programas serão levados para COP30, em Belém (PA) no final do ano.
Sobre o Netflora, Pena explicou que a ferramenta usa inteligência artificial e imagens de drones para identificar, mapear e quantificar espécies florestais de forma ágil e precisa. “O Netflora é uma forma da gente saber quais os tipos de árvores, quais as espécies que nós temos na nossa floresta, de uma forma muito mais rápida e barata”, afirmou.
A tecnologia, segundo Pena, contribui para a rastreabilidade e certificação de produtos da sociobiodiversidade, além de possibilitar políticas públicas mais eficientes. “Hoje a gente voa com drone, 1.000, 2.000 hectares por dia, e a gente faz esse mapeamento em algumas horas. E isso é usado porque nós treinamos os algoritmos não apenas para madeiras como o angelim e o cumaru-ferro, aquelas que manejamos no contexto florestal, mas também para espécies não madeireiras. Ele também destacou que o uso da ferramenta pode evitar a ação de atravessadores ao fornecer dados concretos sobre o potencial produtivo de comunidades extrativistas”, explicou.
Ele também destacou que o uso da ferramenta pode evitar a ação de atravessadores ao fornecer dados concretos sobre o potencial produtivo de comunidades extrativistas.

“Por exemplo, temos um algoritmo treinado que identifica palmeiras. E sabemos que somos, por exemplo, grandes produtores de açaí. Se pegarmos uma comunidade como a do Jurupari, localizada na região de Feijó, que é importantíssima no extrativismo do açaí, podemos, com esse algoritmo, fazer um mapeamento da área e mostrar a potencialidade de ampliação da produção para aquelas famílias. E, em um futuro próximo, até transformar isso em um produto certificado. Por quê? Porque, para termos essa certificação e rastreabilidade, algo muito discutido atualmente, é preciso haver quantificação. Ou seja, conseguimos fazer esse mapeamento de forma muito mais barata e rápida, e a comunidade passa a ter um número estimado do que pode ser entregue”, pontuou.
Questionado sobre os riscos da tecnologia ser mal utilizada, o chefe da Embrapa foi direto. Ainda assim, ressaltou que o sistema é seguro e que os dados são públicos, mas requerem cadastro com CPF ou CNPJ para acesso, permitindo controle e transparência.
“O Santos Dumont, quando desenvolveu o avião, pensava no bem da humanidade, e não para ser usado em guerra. Mas, se uma pessoa má-intencionada quiser usar isso para identificar onde estão os cumaru-ferros e retirar todos, infelizmente isso pode acontecer”, destacou.
A ferramenta, que já atraiu o interesse de instituições do Brasil e do exterior, incluindo Alemanha, Japão e Costa Rica, ainda está em fase de consolidação, mas tem potencial de revolucionar o manejo florestal e o extrativismo sustentável.
“A chance é muito pequena? Eu acredito que sim, porque temos todo o comando-controle, a legislação, e a pessoa estaria cometendo um crime. Então, entendemos que o uso dessa tecnologia será, de fato, voltado para o público de empresas, assistências técnicas que fazem inventário florestal, e para o governo do Estado, que utiliza para inventariar áreas de florestas estaduais, como a Floresta do Antimary, e as flonas, que são as florestas nacionais. Nossa ideia é que essa tecnologia seja aplicada apenas para o bem. E, falando sobre a questão da sua disponibilidade, hoje o Netflora com seus algoritmos treinados, a nossa famosa inteligência artificial, que ouvimos falar tantas vezes por dia no celular, na televisão é também uma tecnologia usada para treinar esses algoritmos. A máquina vai aprendendo conforme a ensinamos, e isso está aberto, disponível ao público no nosso site”, acrescentou.
Outro destaque da conversa foi o Sistema Guaxupé, voltado à pecuária sustentável, que trata de um modelo que integra pastagem com leguminosas, especialmente o amendoim forrageiro, capaz de fixar nitrogênio do ar e adubar o solo naturalmente. “Nós temos pastagem que chega a 2 mil hectares com esse sistema. Pastagens que têm o capim e a leguminosa, que recebem essa adubação sem custo algum”, disse Pena.

Apesar do custo inicial, ele explicou que a adoção pode ser feita de forma gradual e com viveiros próprios do produtor. “Temos aumentos de produtividade de 30% a 40% no ganho de peso por hectare”, relatou.
Segundo o chefe da Embrapa, um experimento em curso comprova que áreas com o sistema Guaxupé mantêm a qualidade da pastagem ao longo dos anos, enquanto áreas sem a leguminosa se degradam rapidamente.
“A gente tem um experimento na Embrapa que precisará ser encerrado. Ele está sendo conduzido há dois anos, e a área que não tem amendoim já não está mais suportando o mesmo número de animais que a área onde foi implantado o amendoim nesse mesmo período. Ou seja, o pasto degradou pela falta de nitrogênio, enquanto, logo ao lado, no mesmo local, o pasto permanece em boas condições por conta do amendoim”, finalizou.
Assista à entrevista: